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segunda-feira, 29 de março de 2010

Eternidade.


"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o 'pra sempre' sempre acaba?"



Renato Russo, Por enquanto.

domingo, 28 de março de 2010

Como treinar seu dragão.



Foi uma coincidência que ontem tenha sido um dia de tributo a amizade. Dia de estar com as pessoas queridas e de ganhar muitos abraços. Assim como tem gente que me deixa triste, é gostoso ver que tem gente que gosta de me deixar feliz. Eis a doçura da dialética da vida. Foi coincidência que eu tenha começado o domingo lendo na revista "Muito" uma entrevista com o André Setaro, professor da FACOM (Faculdade de Comunicação da UFBA) e crítico de cinema, falando sobre o cinema como incursão poética onde a chave é a linguagem de cada filme. Que lindo isso.
Hoje foi dia de cinema em família e considerando que meu irmão tem cinco anos, cinema em família quer dizer filmes para criança. Fomos assistir "Como treinar seu dragão". Se cinema é linguagem, esse filme fala muito bem sobre as metáforas possíveis da sucessão de gerações - o novo sendo mal visto e até não visto pelo velho que fez e conhece as regras: clichê nas ciências, como quando Copérnico disse que o universo não girava em torno da Terra e portanto não erámos senhores do universo, quando Darwin disse que éramos um produto evolutivo e não uma criação divina feita para desempenhar o papel de senhores do planeta e quando Freud disse que não somos sequer senhores de nós mesmos, pois que somos regidos por um inconsciente que não acessamos; clichê nas artes que fazem uma sobreposição constante entre gerações clássicas e modernas; clichê na onda de gerações analisadas antropologicamente: depois da revolução sexual, tivemos o maior indíce de casamentos, depois da liberação da "ficada" e da desmarginalização do sexo tivemos a febre dos anéis da pureza com a promessa de guardar-se virgem até o casamento e etc. A relação de Soluço (um garoto doce, personagem principal do filme) com seu pai, o Viking forte e líder da comunidade é o retrato de todos esses conflitos de sucessão, de todas as barreiras que se faz entre o que se acredita e o que se quer provar, o que se julga que é necessário e o que se descobre que é essencial e a dureza, para os pais, de verem nos filhos sua única chance de serem perpetuados - logo, como faz o Viking caçador de dragões mais valentes da região quando sabe que vai ser perpetuado pelo franzino garoto que não deseja matar dragões? Imagino que seja uma sensação parecida com a do pai promotor que vê o filho se enveredar pelas artes plásticas. Imagino que seja a reação de todos nós diante da impossibilidade de controlar o que geramos, da impossibilidade de imprimir nossos desejos aos que nos sucedem - cada um tem desejos por si só, e só. Soluço e seu pai são o puro retrato da incomunicabilidade.
Mas, adiante de toda essa riqueza de análise num filme para crianças cheio de cenas lindas visualmente (a que Banguela, Soluço e Astrid voam juntos pelo céu no pôr do sol é de enternecer o coração) e de falas com aspirações sinceramente psicanálitics -diz Soluço para o seu tutor "meu pai chama a garçonete e diz: "Ei, eu pedi um sanduíche de filho filé, recheado de bravura, coberto com molho de Glória e acompanhado de coragem e força e não esse sanduíche de espinha de peixe" - para mim a melhor cena é simples, sem díalogos e completamente sentimental.
O filme não se ampara em animais falantes, ou seja, Banguela, o dragão negro de Soluço, não consegue falar com palavras - a relação de amizade que se constrói entre eles é basicamente um acordo de silêncios, uma leitura de olhares, dois tateando vagos em direção ao rumo desconhecido da infinidade do outro (menino e dragão, criaturas tão diversas - acho tão bonito o dragão ser preto: o que é o outro que não somos nós que não mistério e escuridão? Embora depois, em outra cena das mais fofas, Soluço confidencie que não conseguiu matar Banguela, por que, ao sentir que ele estava com tanto medo quanto o próprio Soluço, ele percebeu o quanto dele havia no dragão). Depois de muitas etapas de aproximação, a cena definitiva para que o carinho, a amizade, a fidelidade, o companheirismo e a amizade se estabeleça entre eles é a metáfora mais bonita do filme.
Soluço, com um graveto, desenha Banguela na terra. Banguela, assistindo o menino desenhá-lo, pega um tronco de árvore e também começa, desajeitadamente, a rabiscar a terra. Quando Soluço se vira, ele pisa na linha que Banguela desenhou. Banguela rosna. Ele tira o pé, Banguela sorri. Ele pisa, um rosnado. Tira, um sorriso. Então, Soluço começa a fazer uma dança para que possa cruzar todo o terreno do desenho sem tocar os pés nas linhas desenhadas pelo amigo - ele vai virando, rodopiando, se desequilibrando, medindo cada passo - é lindo. O que é uma amizade sincera senão a nossa dança eterna para que, conhecendo a trajetória do outro, as linhas tortas que o moldaram a ser como é, nunca traí-lo, magoá-lo ou pisar num calo escondido que sabíamos estar no nosso caminho? O que é a amizade sincera senão a compreensão de traços tortos e aleatórios que são as coisas que realmente importam para quem para nós importa?
O final do filme, quando ambos estão feridos e bastante inseridos na falta, deixa claro o quanto a amizade é um meio de sobrevivência e um local onde podemos deixar repousar feridas, porque, no fundo no fundo, todos as posssuímos expostas e ainda assim, podemos amar e ser amados. Clichê, mas reconfortante.
Eu sei que sou uma manteiga derretida das mais bobas, mas achei lindo!

quinta-feira, 25 de março de 2010

"Onde é que há gente no mundo?"



Essa semana, de um jeito ou de outro, me vi compelida a participar de duas conversas sobre os tão clichês e blasfemados relacionamentos amorosos. De um lado, uma conversa sobre a paquera, o antigamente famoso flerte, " o jogo" ou " a dança" e todas as suas regras num bê-a-bá dos mais adolescentes possíveis. A conversa na verdade se inclinava para um manual digno de livro de auto-ajuda: "você deve fazer isso" ; "nunca, sob nenhuma possibilidade faça tal coisa" ; "deixe o cara conduzir o jogo de vocês" e todo tipo de afirmação digna de Jedis especializados na pornochanchada dos relacionamentos.
Assustador. Não tenho muita paciência para paqueras ou joguinhos. Não gosto de ter que parecer ser outra pessoa para que gostem de mim. Ok, talvez quando eu tinha quinze anos. Mas e agora? Devo fingir que gosto de axé para agradar o homem? Enfim, uma conversa chata que não leva ninguém a evoluir sob nenhuma perspectiva. O triste é que o sentido da conversa era verdadeiro - as pessoas jogam enquanto se jogam e quem não sabe as regras quase sempre fica sozinho, deixado de escanteio, chorando ou se perguntando aonde errou. Até aqui nenhuma novidade.
Dias depois, me vi inserida em outra conversa. Desta vez sobre o fim de um relacionamento. Uma rede de intrigas, mentiras, máscaras, duplo comportamento e todo tipo de falcatrua digna de novela mexicana de mal gosto que passa no SBT. Mais uma vez, enjoada.
Não suporto essas frases feitas do tipo "mulher gosta é de se sentir confusa" ou "homem gosta de comandar a conquista". Meu Deus, nem pra nos gostarmos, nos aproximarmos, nos comunicarmos e tentarmos ficar juntos podemos ser gratuitos ou naturais? Não se pode dar risada, tomar um vinho, ir ao cinema, dançar, falar algo ao pé do ouvido com simplicidade e verdade? Se ganho flores que odeio, devo fingir que amo? Se ele diz que gosta de loiras, devo pintar meu cabelo? Sei que tudo isso acaba sendo o clichê do superficial numa análise de relacionamentos, mas me dá um desinteresse, um cansaço, uma espécie de tédio e de vontade de deitar e me espriguiçar e tomar um chá e ficar em casa ouvindo Maria Bethânia...
Dispenso as adrenalinas de um homem achando que está me conquistando. Dispenso as inseguranças de saber se serei amada ou não, se serei aceita ou não, se serei enganada ou não. Gosto de gente que fala a verdadade. Que vive de verdade. Tudo que me interessa nessa encarnação ( e possivelmente nas próximas) é paz. Um homem que me faça sentir menos perdida do que eu me sinto sempre já está de bom tamanho e mais do que suficiente.
Então que hoje eu estava assistindo Bones quando vi uma cena que resumia a opéra perfeitamente. O perito nerd ia entrevistar os jovens de uma daquelas sociedades típicas de faculdade americana - alpha, beta, phi, sigma, whatever - e via um mural com o nome de cada um dos rapazes e uma sequência de estrelas ao lado do nome. Ele quer entender o que significa aquilo. Logo lhe explicam, orgulhosos, que a quantidade de estrelas representa a quantidade de mulheres que tem dormido com eles. O perito ergue uma das sobrancelhas, faz um muxoxo e saí. Vira pro seu colega e diz: Sabe o que esses jovens são? Emocionalmente brochantes. Junta esse termo com o que a Nina Becker usou e pronto - eis a síntese completa dos nossos dias nas relações amorosas e interpessoais: emocionalmente brochantes e subdesenvolvidos emocionais.
Onde está o bote salva-vidas? Onde é que eu desligo o videogame? Vamos começar a escrever poemas em linha reta para dar significado em tudo isso.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Amores serão sempre amáveis.




"Não se afobe não - que nada é pra já. O amor não tem pressa. Ele pode esperar em silêncio. Num fundo de armário. Na posta restante. Milênios! Milênios! No ar..."



Futuros Amantes; Chico Buarque.

domingo, 21 de março de 2010

Eu quero um gole de cerveja no seu copo.


"Não quero o que a cabeça pensa. Eu quero o que a alma deseja."

O problema é que o orkut está certo quando diz que se queremos coisas que nunca tivemos, devemos agir completamente diferente para poder obtê-las. E certas coisas eu tenho mesmo grande dificuldade para largar: eu gosto de livros, canecas de chá ou chocolate quente, filmes, seriados, poucos amigos reunidos para conversar ou jogar baralho ou imagem & ação. Não gosto de carnaval, não gosto de music-bar, não gosto de boate, não gosto de multidão. Daí quando a vida te impõe condições extremamente duras e você se decepciona com grande maioria das pessoas que te cerca (porque você tem um cerebro que raciocina sobre as coisas e também um coração que sente sobre as coisas), o que te resta é querer coisas diferentes. Mas aí você se depara com a sua própria simplicidade interior e sua falta de vontade de mudar as coisas exteriores - no fim, de todas as escolhas, você fecha com a solidão. O que não é de todo ruim, sabe, as vezes, para poder ficar de verdade com os outros - e não ficar para ser amada, ou para ser aceita, ou para ser querida, ou para ser necessária, ou porque se está carente - é preciso que se tenha estado primeiramente consigo, com seus próprios limites, suas próprias dissimulações, as piadas das quais se ri sozinho e principalmente é preciso estar muito ciente sempre de até onde você está disposto a ir para obter algo e como isso se transforma em você cobrando dos outros aquela mesma postura. Eu só queria um pouco de paz. Um pouco de conversa entre um livro, um episódio de seriado e um filme no cinema. Eu só queria não estar tão sozinha - mas entre a solidão e a falsidade, a solidão me abraça e me abarca e me preenche tanto de mim que é a escolha final e assim será. As novas atitudes animadas me parecem banais. Continuo agarrada nos livros e fazendo piadas com Freud. Continuo sendo radical nos meus pontos de vista éticos, morais e sentimentais.
Se o preço a se pagar é ficar sozinha, abraço o Belchior, bebo uma cerveja no copo dele e digo a vida, cantando no meu tempo de ouvir o rádio no carro, num tempo que eu comando: "vida, pisa devagar, meu coração cuidado é frágil, meu coração é como vidro, como um beijo de novela. Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão, o meu sonho, a minha fúria, esta pressa de viver..."

PS.Acho que o fato da pessoa amar Belchior já deixa claro a dificuldade natural que ela tem para se inserir e socializar nesse universo e já é um sintoma da solidão que ela vai sentir cada vez que tentar transformar-se junto de grupos de pessoas dos seus próprios vinte e poucos anos. Meu coração selvagem que o diga.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Just dont know what to do with myself.



Ouvindo o site da revista TPM, na sessão de Podcast chamada "Músicas de Apego", me deparei com uma coisa maravilhosa. (Vale a pena voltar lá e ouvir o podcast completo com a Nina, que tem músicas sinceramente sensacionais!)

Nina Becker, cantora da maravilhosa Orquestra Imperial, foi muito feliz quando ponderou, durante sua entrevista, que "existe uma intolerância a explicitação dos sentimentos hoje em dia. Uma espécie de subdesenvolvimento emocional."

Eu diria, Lucy, que é por coisas como essa, que chove tanto sob nossas cabeças. Não sabemos fazer chover de outro jeito.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Tudo pode dar certo?


O título desse filme, na versão original é "Whatever Works" e foi traduzido, no Brasil e em Portugal, como "Tudo pode dar certo". Eu ficaria muito feliz se algum dia nessa cidade tão maravilhosa que é Salvador eu pudesse assistir esse filme no cinema - mas como todos os meses (desde Janeiro) a sua estréia é planejada e cancelada, vejo que nem tudo pode dar certo e aguardo o dvd, depois de já ter lido todas as (boas) críticas.
A questão, pra mim, é o ponto de desespero, paranóia, solidão e absoluta desconfiança no mundo e nos seres humanos que uma pessoa precisa alcançar para se autorizar a abandonar tudo que acredita, todos os seus ideais, o seu sistema de crenças e valores e o jeito como conduziu sua vida para abraçar 'seja lá o que funcione'. Como sobreviver a chegada deste tal momento da vida em que devemos abandonar as aspirações românticas de nossas juventude e começar a apelar para o que de fato funciona? Devo me proclamar uma senhora de vinte e um anos, então? Simplesmente resignada a abdandonar as ideologias bobocas que me movem em troca do que de verdade funciona? As pessoas que costumavam estar ao meu redor são mais espertas que eu e isso já fizeram há tempos. Não sou chegada em papos "socialistas" e muito menos em idéias de "revolução do movimento" mas ao que parece sou a última romântica de qualquer lado do oceano atlântico!
Mais triste ainda é quando você percebe que as coisas que você deixou para trás ficaram de verdade para trás e tampouco as coisas novas que você abraçou funcionam. E aí eu poderia citar todos os personagens neuróticos do Woody, falando demais sem ninguém necessariamente estar ouvindo, tentando organizar as coisas de forma a ter sentido para que esse fenômeno exaustivo e terrível que é simplesmente existir possa ser apaziguado. Alguns se relacionam, outros são camaleões, outros não sabem o que querem, alguns são completamente insanos e outros são a definição clássica e caricata do que a psicanálise define como um neurótico, simples assim. E não vejo exatamente as coisas darem certo para nenhum deles. E se a vida imita mesmo a arte,tudo pode dar certo para quem, cara pálida? Só me resta o luto pelos meus sentimentos desgarrados ao vento sem o barulho ou a poesia das folhas. No fim, sou eu que vou dizer tchau.


ps. Mais quatro dias nesse ritmo, pra eu terminar de elaborar o luto de uma parte grande da minha vida. Depois, programação minimamente aceitável e textos com algum propósito. (cof, cof)

terça-feira, 16 de março de 2010

Mundo-esteira.


Eu até queria ter o que escrever nesse blog mas ando cercada de pessoas tão banais, decepcionantes e mesquinhas e de coisas tão estúpidas e ridículas que nem consigo cogitar gastar minhas palavras para descrever essa palhaçada toda. Acho que algumas pessoas substituiram o juízo e o coração por ampulhetas e cifrões. Não sei se eu ainda sinto muito, dizem que a justiça na vida é que embora a semeadura seja opcional, a colheita é obrigatória.

Li a entrevista de um médico ortomolecular que falava sobre o homem analógico vivendo no mundo digital, mostrando o absurdo que era as pessoas acharem que o ritmo de vida delas é normal. Eu acrescentaria apenas que esse homem gosta desse mundo. Esse homem não entende que ocupa o "mundo-esteira", enquanto você corre pra nenhum lugar achando que é a coisa mais importante do mundo, sua família, seus amigos, seus livros, seus filmes e a sua vida ficam pra trás - e te falta tempo (e sensibilidade e noção) para perceber que você não tempo pra perder. Daí emergem as ofertas rídiculas e nunca cumpridas. Daí emerge a expectativa que de alguém espere o seu tempo - embora você não esteja nenhum pouco interessado no tempo de ninguém.
Eles correm na esteira achando que estão indo super longe e por isso não tem tempo para perceber que na verdade, estão deixando tudo ( que não deviam) e todos (que os amavam) para trás. Talvez, quando chegarem em algum pódio imaginário e perceberem que não tem sequer com quem jantar para comemorar, eles percebam a merda toda que fizeram. Mas aí, obviamente, já vai ser tarde demais.
Como esses seres do mundo-esteira sequer tem tempo para ler um texto banal, durante uns dias, por aqui, só imagens e micro textos reflexivos sobre sobreviver (nojentamente e obrigatoriamente) ao lado dessas pessoas banais e de seus mundos ridículos, que insistem em me dar 'bom dia' como se tudo isso fosse normal.
O corpo pede um pouco mais de alma, a vida pede um pouco mais de calma, mas eu sei, o tempo não para. Me consolo sabendo que pelo menos eu ainda tenho quem queira jantar comigo para comemorar minhas vitórias e até mesmo (impossível para alguns sequer imaginar isso) chorar minhas derrotas. É mais que suficiente.

domingo, 14 de março de 2010

Sobre estar só, eu sei.




"e todas as pessoas que falam
pra me consolar
parecem um bocado de bocas
se abrindo e fechando
sem ninguém pra dublar"

Arnaldo Antunes; Meu coração.

sexta-feira, 12 de março de 2010

"Você lê no recreio?!"



Daí que eu fui comer uma torta, num típico programa de gordinha-tensa, que é algo muito aceito culturalmente entre as minhas amigas (Graças a Deus, mas minha dieta odeia totalmente). Fomos matar as saudades de Carol, que chegou de Londres na semana passada. De lá algumas das meninas iam esticar em algum Music Bar e eu vim pra casa. Achei Gustavo, meu irmão de cinco anos, acordado quase dez da noite. Contei histórias de fazenda, brincamos de escrever todas as vogais e fazer carinhas felizes no "o" de chapéu ou no "e" bailarina, por exemplo. Tendo feito cartões para nossos progenitores ("zu, para mamãe, é de coração porque ela é menina, para papai fazemos de nuvens, tá?") e não tendo mais nada para escrever resolvemos entrar na seara de assuntos referentes ao que cada um de nós faz na escola. Ele me perguntou: "O que você faz no recreio?" ao que eu respondi "Dê, (sim, eu coloco apelidos nada a ver nas pessoas, é mais forte do que eu, desculpa) o meu recreio é super rápido, eu como alguma coisa, converso um pouquinho com o pessoal e se precisar, eu vou na biblioteca pegar algum livro ou texto que eu tenha que ler". Ele faz uma cara meio intrigada e bastante chocada com a obviedade de sua própria observação e diz: "Zu, por que você não brinca no seu recreio?"
É uma excelente pergunta, Gu. Porque é que nas minhas horas vagas eu não simplesmente brinco?




ps. São 22:37 de uma sexta-feira e ele e minha mãe estão me ensinando a coreografia que eles fizeram para "pegue a esteira e seu chapéu, vamos para a praia que o sol já vem, tiririri-pompompom-tiriri-pompompom". O detalhe que eles curtem ignorar: eu tenho aula de farmacologia amanhã sete e trinta.
Manutenção da qualidade de vida e da sanidade mental familiar, a gente se vê por aqui.

Carpinejando.



(Fabrício Carpinejar, pra quem não sabe, é um escritor & poeta gaúcho maravilhoso na arte de ver lirismo e doçura nas arguras cotidianas - um sobrevivente num mundo cada dia mais cinza. Insistindo na questão de fazer títulos que façam alusão a jeitos de escrever de certas pessoas, digo: quem carpineja, escreve com doçura, carinho e frescor sobre as dorzinhas e pontadas que a vida exclama a toda hora. Eis o que pretendo fazer abaixo. Estou "carpinejando")

As pessoas, de maneira geral, sentem medo da tristeza e da solidão. Não pretendo ser uma exceção mas gosto de usar a aquarela e o pincel para inventar novas combinações de cores: para quê usar o azul se posso viver o verde e o amarelo misturados para obter o mesmo resultado? Há dores que são urgência, emergência, eminência. Não há como escapar. Deformam o coração, apertam o peito, mas não precisam ser apenas tristes. Nada precisa. Não existe 'precisar'.
A maior inimiga da minha tristeza é a esteira de ginástica. Como, em tristeza sã, passar quarenta minutos caminhando em velocidades alternadas sem chegar a lugar algum sem comparar com o processo que é a vida? Andar, andar, andar, pensar que precisa-se correr para chegar logo e ver que não há onde chegar. Em que ficar pensando durante esses quarenta minutos? Eu não. Prefiro uma tristeza-alegre.
Eu, que nunca fui muito dada a maquiagens, agora ando por aí com os olhos vermelhos, marejados. É uma melancolia poética. Olhos que viram muito sabem fazer chover, mas também se apertam para sorrir. A tristeza é muito engraçada, é nosso coração, em sequência, se colocando para fora de nós e se transformando em coisas que não são e que não somos: o que era concreto cinza, conjunto de pilastras e listras amarelas, mais um estacionamento, é agora um lugar em que se sorri entre lágrimas quando o coração aperta e lembra que ele, justo ele, nunca sabia entrar no estacionamento e achar a sua vaga favorita. Se perdia, rodava, reclamava, ora era orgulhoso e se resusava a pedir ajuda, ora dizia "você pode me dizer onde é que eu devo virar?". Tristeza-alegre é saber que a maquiagem vermelha, o concreto cinza, o barulho da chuva, o videogame do quarto do lado, os livros da estante e até os pensamentos da minha cabeça por um tempo não serão só o que são, não serão só meus. Tristeza-alegre é não dar sentido ao que não tem sentido, mas se permitir viver com intensidade o que é sentido. Mas a vida vai correndo para não chegar em lugar nenhum e eu preciso ter algo em mente para o enquanto isso. Tristeza-alegre é a roupa do Pierrot, em dia de carnaval, chorando pelo amor da Colombina - ainda que haja choro, estou com a roupa de palhaço e ainda é carnaval.

quinta-feira, 11 de março de 2010

"O seu problema é você mesmo"



Depois de assistir "Curtindo a vida adoidado" pude pensar sobre muitas questões como a importância da sorte, como o mundo era mais enrolável quando não haviam celulares e a eterna disputa entre irmãos. Tópicos que certamente renderiam uma ótima análise. Mas não é sobre nada disso que eu quero falar. O fato é: eu nunca me diverti tanto quanto Ferris Bueller. Eu sei que eu só tenho vinte e um anos mas isso não impede minha hipótese de ser absolutamente comprovada. Ferris se diverte porque ele simplesmente não tem nenhum potencial para a culpa, para a reflexão ou para arriscar pensar em qualquer espécie de consequência. Ele se diverte por pura dispretensão. É o que ele de melhor sabe fazer, e com maestria, o faz.
Pegar o carro do meu pai, mentir para a minha mãe, cabular aula, convencer meus amigos a fazer coisas que ele a princípio não querem: ok. Mas como me divertir com o carro do meu pai enquanto morro de medo de que aconteça algo com ele e por conseguinte comigo? Como mentir para a minha mãe sabendo que ela vai ficar tão magoada? Eu faço por orgulho, não por prazer. E quando deveria ser por prazer, morro de medo. De gostar da disgressão, sei lá, ou de passar a não me importar com os sentimentos dos outros.
Verdade seja dita: eu sou a pessoa na qual colocaram o papelzinho "responsável". Minha mãe daria muita risada e diria que isso é mentira porque eu deixo as coisas bagunçadas, estudo de última hora e odeio ir ao médico e tomar conta da minha própria saúde. Mas, não conheço ninguém que se importe mais com o que os outros vão pensar, o que os outros vão sentir, como os outros vão interpretar e no que isso pode vir a dar do que eu. Alguns (pessoas mais velhas e caretas, provavelmente) vão chamar isso de juízo ou maturidade emocional, eu chamaria de coeficiente de destruição da diversão - beirando virar a babaca que diz pro amigo que está dirigindo "cuidado, você está muito rápido" ou "por que você não trouxe o casaco?".
Como posso me divertir despretensiosamente se meu Camerom interior não para de pensar nos possíveis jeitos que meu pai me esfolará sequer se acontecer algo com meu próprio carro - quiça com o dele? Como posso me divertir se sempre estou comprometida com os sentimentos do meu namorado, das minhas amigas, dos meus amigos e da minha família? Como posso me divertir se ao ser descoberta posso desapontar tantas pessoas que esperam coisas de mim? Quando foi que eu fui infame a ponto de permitir que esperassem? Como posso me divertir se as consequências disso podem machucar alguém? Quando assinei o atestado de 'babá cooperante' assinei o de 'pessoa mais sem sal do mundo' sem saber?
Quando o cara de Two and a Half man diz pra a irmã de Ferris que o problema é ela mesma, ilumina tudo e ela consegue dar uns pegas, dirigir alucinada e se divertir sacaneando o diretor do colégio. Vamos ver o que ( se é que) eu consigo aprontar agora que sei que o problema sou eu mesma. Twist and shout.


ps. Desconfio que isso até que ficou meio queixoso, mas a sensação que ficou é de vontade urgente de me divertir - o que é muito bom.

terça-feira, 9 de março de 2010

/Sobminhalentezei.


Daí que eu sobminhalentizei ("sobminhalentezar": 1 - ficar viciado em filmes e seriados de maneira realmente obcecada ; 2 - achar que o cinema é a sétima arte que tem a mensagem que dá sentido ao fenômeno vida ; 3 - referência ao site de um colega que faz critícas sobre cinema e séries com propriedade e público fiel e cativo (Sobaminhalente) e cujos nossos outros colegas adoram abusar e sacanear com qualquer coisa referente ao vício pelo cinema capaz até de interditar a pipoca alheia) e aluguei quatro filmes para essa semana.
Estive lendo uma lista de filmes indicados ao Oscar pela trilha sonora e me bateu uma nostalgia do que vi sem viver e caí na rede oitentista da juventude que se divertia: "De volta para o futuro" ; "Curtindo a vida adoidado" e "Os caça-fantasmas" já estão na estante, esperando pelo momento certo de serem assistidos pelo puro prazer da sua despretensão.
Por outro lado, fechando os quatro filmes que vou assistir até segunda, Silêncio dos Inocentes, que eu nunca vi (admito, não crucifiquem) e porque essa onda de perfil criminal, comportamento dos psicopatas e tudo o mais tem me interessado demais e eu tenho lido muito sobre isso, livros, artigos, etc.
Para completar o novo estilo de vida, é só ficar aguardando freneticamente o episódio dezessete da quinta temporada de Criminal Minds, que sai amanhã nos EUA e até o fim de semana eu devo achar legendado.
Vida social no fim de semana? Sair com amigos? Conversar com pessoas? Ver a cara da rua? Tudo isso é para fracos. Ou para o Ferris. Os bons (e os sem outras opções) ficam com a arte, o cinema, a literatura. (Anham Claudia, senta lá!)

sexta-feira, 5 de março de 2010

Bem vindo a Salvador.


isso é que é música (not)


Obviamente, todos os dias eu vou com mp3 e fones de ouvido para a academia porque não rola de ficar malhando e ouvindo música eletrônica ou axé. Posso me vender ao sistema corporal que exige que meu corpo seja assim e assado para eu ser feliz, mas o sistema sonoro baiano que exige que eu curta tal tipo de música pra ser incluída e animada eu faço questão de continuar desdenhando e não tô nem aí. Sem placa de "vende-se".
Daí que hoje por causa da pressa eu esqueci de levar meu mp3! Cheguei na academia, subi na esteira e vi que tava tocando Kid Abelha no Dvd. Me lembrei que podia ser muito pior, então eu fiquei feliz. Rapidinho, trocaram o dvd. Vi um cara entrar de terno. Um outro de blazer. Somei quatro barbas. E pensei "não pode ser, puta que pariu, é Los Hermanos?". Malhei cantando. Feliz da vida por estar na academia de ginástica, local ocupado por pessoas que eu pessoalmente discrimino e estar ouvindo uma música com letras que fazem sentido! Ergui as mãos e dei glória a Deus.
Alegria de pobre dura pouco, é o que dizem. Parece que enquanto eu malhava cantando, algumas pessoas menos nobres de espiríto organizaram um motim e o dvd foi trocado. Ouvi as pessoas pedindo "Chiclete com Banana". Começou a tocar animadamente no DVD. Me resignei calmamente, já estou acostumada a ser minoria na Bahia, que diferença ia fazer ser minoria na academia? Comecei a ouvir as conversas sobre o nível das pessoas que frequentam a Trivela ( festa do Asa de Águia, para alguma boa alma que não saiba) e o Ensaio Geral (festa do Chiclete com Banana), as conversas sobre a coleção de bandanas de Bel e seu patrimônio e algumas comparações entre Los Hermanos e Detonautas.
Eu podia ter ficado na minha. Com certeza eu podia. Mas é o que minha mãe diz de mim todo santo dia: sou radical demais. Louca, alguns dizem também. E eu tava lá em cima da esteira, já era a gordinha freak que conhecia Los Hermanos, já era a gordinha freak que sabia cantar quando Toni Garrido cantava música de Belchior no DVD, já era a gordinha nerd de óculos verde da academia então, depois de um breve período tentando controlar meus instintons antipáticos, liguei o foda-se e fui ser feliz.
Chamei o dono da academia (a.k.a um dos melhores amigos de meu pai, que também malha lá nos finais de semana em que não está morando na boa e recheada de museus, cidade de São Paulo) e disse alto, bem marginal, bem antipática, com um tom quase de como se eu fosse superior só por gostar de uma merda de banda (ó, grandes merdas hein? ZzZZzz) bem perto da galera feliz que curte axé, balança o bracinho e canta bem alto: "Poxa, meu querido. Você tem um dvd de Los Hermanos! Que coisa ótima! Tô super feliz que você é amigo de meu pai. Futuro promissor!"
Coxixos pela academia. Pronto, agora eu sou a gordinha nerd excluída antipática caída de Marte da academia. Mas grandes coisas, eu já era tudo isso quando resolvi nascer na capital do axé, mesmo, então, não mudou tanta coisa. Me senti vingada. E me senti bem vinda a Salvador. E nunca mais esqueço o mp3.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Ana Silva, Márcio Costa, Luisa Tavares, Benedito Souza...


Larissa Seixas, Edmundo Marcos, Vinicius Silva, Brian Macedo, Pedro Hijo, Turan Dias, Simone Brasil e Alexandre Hartman no meu aniversário hihihi.

Só eu acho nada a ver pegar uma foto com os AMIGOS e legendar chamando cada um pelo nome + sobrenome? Na hora de beber, na hora de chorar, na hora de dar risada, na hora de ir pro cinema... qual é a hora em que você chama seu AMIGO pelo nome mais sobrenome? Essa formalidade não se opõe diretamente a intimidade que a amizade convida? É questão de status? Tem a ver com a idade? Ou com a profissão? Intimidade é old school? Alguém me explica, por favor?

Poema em linha reta.



POEMA EM LINHA RETA
Alvaro de Campos

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."



E é assim que a (minha) banda tem tocado no rádio.

quarta-feira, 3 de março de 2010

MAM - BA.










Vasculhando uns arquivos antigos no computador, achei umas fotos antigas de uma ida ao Museu de Arte Moderna da Bahia com minha amiga (e praticamente jornalista já) Paula, dos tempos em que eu trabalhava numa ONG que fazia trabalho com as crianças da comunidade do Unhão.
Achei as fotos tão lindas e me deu uma saudade tão grande desse tempo que a gente ia pro Jazz do pôr do sol do museu, via as exposições, tomava uma caipirinha por lá, comia um acarajé, dava risada, conversava, que, bem, aqui estão os registros.


* Todas as fotos foram tiradas por Paulinha.

terça-feira, 2 de março de 2010

Hakuna Matata.


Mafalda tem a irritante mania de sempre ter razão.

Embora eu tenha que passar o dia me dividindo entre os rótulos de cdf interessada na faculdade e geração saúde obediente na academia, o que eu queria mesmo nesse momento eram vinte e quatro horas de alternância no desfrute dos meus vícios (sim, eu me lembro que férias só em julho, obrigada por perguntar). Meu namorado sempre ri de mim, do jeito que eu gosto das coisas e me vicio nelas com facilidade. Eu sei, é quase patológico.
Nesse momento, nos intervalos da rotina faculdade-check up médico-academia eu só ando fazendo três coisas: lendo todo o possível de Criminal Minds que existe na internet enquanto espero o episódio 05x16 sair nos EUA, alguém legendar e eu poder baixar ; ouvindo o cd Iê Iê Iê do Arnaldo Antunes o tempo inteiro enquanto dirijo pra qualquer lugar (dei umas três caronas pra minha mãe e ela não aguenta mais, mas tem um mês que só toca ele por lá, recomendo muito, para todos.) e ler o maravilhoso "Toda Mafalda - da primeira a última tirinha" que meu (querido) namorado me deu de aniversário de namoro.

Criminal Minds + Arnaldo Antunes + Mafalda = isso é que é viver, é aprender, hakuna matata.

segunda-feira, 1 de março de 2010