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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O limite da razão.



Olha, muitas e muitas vezes na vida eu "decidi" e me prometi alguma coisa e segui firme e adiante na decisão por, sei lá, sendo otimista, umas duas semanas. Tipo, 'não amo mais fulano', 'estou de dieta', 'vou levar estatística a sério esse semestre' e coisas assim. O problema é que eu acho que nasci pra ser contraventora ou desprovida de qualquer espécie de razoabilidade e/ou amor próprio ou vai ver que eu simplesmente não conheço o significado de força de vontade e objetivos de vida e enxergo tudo com os olhos superficiais de quem só consegue ver a primeira camada de consequências e nunca olhar adiante para os desdobramentos futuros ou todas as opções citadas anteriormente juntas, porque entre as consequências horríveis de não fazer o que eu havia decidido e me prometido, como ficar curtindo dor de cotovelo eterna, engordar e querer me matar vendo que todo mundo emagrece menos eu e largar a matéria mil vezes de modo a atrasar o curso todo e me formar tardiamente e fazer o que eu havia prometido pra mim mesma que cumpriria, eu sempre acabava sendo impelida a me agarrar nas consequências diretas do abandono da minha decisão e trata-las como bóias que me permitiam não afundar no mar e aguentar ouvir todas as queixas de minha mãe sobre a minha displicência e auto-abandono. (Minha mãe tem a terrível mania de estar sempre certa)
Vamos dizer que, a essas tragédias cotidianas eu já estava habituada, o duro era sair do roteiro e encarar de fato as outras coisas - e o mais duro ainda é que embora as consequências ruins sejam bem ruins, as consequências boas que eu teria se eu tivesse me mantido nessas "decisões" de duas semanas seriam ínfimas (percebe aqui os olhos acostumados a olhar apenas para um passo no futuro e não para a amplidão?). Tipo, abrir mão de todos os meus sentimentos e ganhei uma solidão (sim, eu nasci numa novela mexicana de quinta categoria e as vezes acho que sofrer sozinho é viver, juro), abrir mão de comer tudo que eu queria e abrir mão da preguiça e de ficar em casa de pijama pra fazer dieta e malhar e emagrecer dois quilos quando eu preciso emagrecer uns vinte ou abrir mão de dormir até as dez da manhã pra ir aprender a mexer numa calculadora científica.
Senta lá, sabe Cláudia, porque todas as vezes que eu desisti foi por isso: esforço irracional para abrir mão de coisas boas em prol de coisas que as pessoas dizem que são boas. Ou abri mão de coisas boas buscando coisas muito boas mas que demorariam muito a vir - devem passar uns dois ou três anos até que eu perca vinte quilos, vai passar seis meses ou mais pra que eu entenda alguma mínima coisa de estatística e vai demorar uns quinze anos pra eu entender que um coração ferido também tem direito de tentar fazer da vida amorosa alguma coisa útil de verdade. Até aqui tinha sido assim. Aqui aqui os olhos rasos saíam do horizonte ao ouvir o sininho do isopor de capelinha da praia. Mas aqui as coisas mudam ou pelo menos começam a mudar, já na forma de enxergar os problemas. Aqui aconteceram coisas que fizeram com que a minha percepção mudasse. Aqui eu começo a ter que retroceder pro passado e levar todas as coisas com a maior seriedade possível pra poder caminhar rumo ao futuro. Aqui eu peço penico rosa, coloco entre as pernas e saio pianinho. Aqui eu vendi a alma ao diabo, pendurei a plaquinha de "fechado para almoço" no pescoço da Juliana que todo mundo conhece e um beijo, tchau. Saudade pra quem é de saudade. Saudade pra quem tem tempo e disposição pra isso - o que não é meu caso no momento.
Acho que o que eu preciso mais é transformar estas coisas em rotina. Transformar a vida em rotina, as coisas em obrigações que eu preciso fazer, tipo escovar os dentes. Uma rotina inquestionável. Aquela coisa que a gente apenas faz porque já tá acostumada a fazer e então não fica questionando o custo X benefício daquilo e nem chorando pelos cantos porque dormir ou comer são melhores do que aula chata as sete da manhã. Espero conseguir fazer esta rotina, espero conseguir seguir minha rotina, espero ter mais objetivos e consequentemente mais força de vontade esse semestre, esse ano, essa encarnação, quem sabe? Só sei que eu juro solenemente pra mim mesma que eu vou ser uma velhinha com rotina, horário de dormir, quantidade de filmes e livros, ginástica e estudo por semana. E é assim que a banda vai tocar. E todo o resto vai ter que se encaixar nas brechas que surgirem na minha agenda. Dessa vez acho que é um beco sem saída. Espero que seja mesmo, porque, se tiver saída, eu já sei que eu escapo. Queria poder conversar isso com alguém. Mas a verdade é que essas personagens atrapalhadas e que não sabem o que fazer com a própria vida e o próprio umbigo só fazem sucesso em livros e filmes tipo Bridget Jones e Becky Bloom. Na vida real, ninguém troca uma editora chefe bem vestida e de cabelo impecável por uma doida ruiva endividada. Nem tampouco alguém em sã consciência deixaria de se relacionar com uma advogada séria, inteligente e independente para viver do lado de uma gordinha fumante que usa calcinha de vó e paga mico em rede nacional. Saudade da terapia.

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