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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Burocracia periódica.




Se você não mora em Salvador, nunca vai entender o efeito do fenômeno "verão" na cidade e, principalmente, nas pessoas. "O verão" é quase uma instância, um balacobaco, um intangível, o maioral. Penso que sempre foi assim, mas de uns tempos pra cá a coisa se agravou, o discurso de perspectiva foi se afunilando - a partir de outubro pode-se ouvir por aí em conversas ansiosas: "o verão já está chegando". Se você, leigo não baiano está pensando "ah, o verão é uma coisa boa, muito sol, uma praia linda dessas que vocês tem.." digo logo: NOT.


O verão é o código para "a pegação na bahia". Em Novembro, te juro, sem sacanagem, algumas pessoas começam a terminar namoros (não pensem que é só namoro de um mês não tá? tem gente que termina namoro de, sei lá, três anos) porque "é verão" enquanto outras que estavam se conhecendo deixam meio pra lá porque né "verão não é hora de namorar". Aqui o verão vai de novembro até o final do carnaval e a cidade inteira se sensualiza ao som do axé - acho que o carnaval é o fechamento do ciclo porque tem a velha tradição de beijar o máximo de pessoas possíveis ao som de hinos de incentivo ("eu quero mais é beijar na boca / eu quero mais é beijar na boca / e ser feliz / daqui pra sempre" ou "comigo é a base do beijo / comigo é na base do amor" ou insira aqui seu bordão de beijação de qualquer carnaval since ever) e de fazer aposta e aí quem beijar menos, tem que beijar um dos cordeiros, aquelas pessoas que trabalham segurando as cordas dos blocos. Mas, pensando bem, o verão faz calor e isso pode mesmo propiciar esse fogo todo nas pessoas. E pensando bem, queima o cerebro de outras pessoas também, porque conheço relacionamentos em que a via de regra é "namora-acaba no carnaval - volta - namora - acaba no carnaval att infinutum".


A questão é que, assim sendo, aqui em Salvador as pessoas podiam viver em paz em seus relacionamentos de Março a Novembro e costumavam passar por períodos de ansiedade seguidos de bagaceira e pé na jaca de Dezembro a Fevereiro. Ok. Mas agora, "axélizaram" o São João e a grande tendência é viajar em excursão para as cidades do interior e ficar com todo mundo! Ou seja, agora, além de Dezembro, Janeiro e Fevereiro estarem interditados, Junho também está!



As coisas da ordem burocrática-geográfica-temporal dos relacionamentos soteropolitanos estão ficando tão cheias de vias de regras e de condições temporais para acontecerem que acho que o celibato é o caminho mais viável para acabar com as inquietações do tipo: "esse MÊS eu posso ligar pra ele?" ; "como anda nossa relação 8 meses juntos, 4 meses de férias?" (os empregos podiam seguir essas vias de regra também, né?) ou "aimeuDeus, tô adorando ficar com ele, mas lá vem o Verão... no que será que vai dar?"



Calor baiano, derretendo dignidades desde a invenção do mundo. #ficaadica

2 comentários:

  1. eu não sei exatamente o que ela quis dizer com esse "se fudeu". se é "se fudeu porque ele vai voltar e vai pegar todas as doenças sexualmente transmissíveis possíveis" ou "se fudeu porque tá pegando a guria mais acéfala da bahia". é, essa última não é mesmo.

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  2. AHAHAHAHAHAHAHAH

    Ai, meu Deus! Eu dei risada do inicio ao fim do texto. Agora é a época do São João. Pra mim, é o mês da Copa do Mundo ahauhuishsh Como não tenho esse tipo de instabilidade, pelo contrário, pra mim ficar com alguém sempre vai significar alguma coisa, é bom saber que as pessoas estão se divertindo e aquecendo a indústria...

    beijos!

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