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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Seleção de estágio.




Eu acho que o problema é de puro encaixe: como um parafuso largo demais numa porca pequena ou vice-versa. Por outro lado, é fato que eu não gosto de coisas pré-definidas: "ah, para ser um bom < insira qualquer profissão em qualquer área> você tem que ser < insira qualquer adjetivo de qualquer espécie>". Discordo: para ser um bom profissional empregado, acho que você tem que levar seu emprego a sério, assumir suas responsabilidades, saber se comunicar com as pessoas ao seu redor, e bom: trabalhar duro com o melhor de si, dentro das potencialidades e conhecimentos exigidos. No fundo, acho que DEVERIA tanto fazer se você prefere Truffaut ou Fellini. Isso, se tratando de empregos - e não de vocações. Vocações são para os grandes, pessoas que nascem com um dom que precisa ser empregado em determinada profissão e pronto - o dom antecede a profissão, a escolha, o emprego. O dom constitui a pessoa. O emprego é só uma função que você tem na vida e tem que cumprir: chegue nove horas, arrume a papelada, assine os documentos, revise os textos, faça café e sirva para todos, atenda pessoas, traduza textos, faça telefonemas, mande emails, enfim, na minha opinião um emprego é algo que ocupa seu tempo, seu comportamento e te dá responsabilidades e obrigações e algo no qual você deve se esforçar para se desenvolver o máximo. Mas, assim, na grande maioria dos empregos pode ser que você se destaque imensamente se você tiver um DOM mas assim, tirando se você pretender ser um líder humanitário que prega a paz, presidente da áfrica do sul tentando curar feridas do Apartheid ou ser uma freira na Bahia que tenta promover saúde e carinho para os mais necessitados - suas características ou dons podem ser exercitados, transformados, melhorados, reclassificados e bem menos definitivos para a contratação. Ok, recomenda-se um psicólogo que goste de ouvir, um advogado que gosta de ler, um professor que sabe ensinar, um físico que sabe calcular, um motorista com carteira de motorista e por aí vai, o que não rola é acharem que você deve coisas demais para cargo de menos.
Daí eu vou nas seleções de estágio (bye bye procrastinação, olá dinheiro na conta, oioi tardes ocupados e cabeça idem) mas eu me sinto completamente aleatória, patinho feio, sabe? Pra exemplificar, é como se pela pessoa que eu sou, exatamente, pela pessoa que eu sou e não pelo que eu sei ou não sei (que ok, admito, interfere muito sim, e eu não sei mesmo quase nada, mas a idéia de um estágio não seria mesmo aprender?) é que o estágio não vai rolar. Numa aproximação mais banalizada, é como se eu tivesse nascido para a pediatria, numa paciência infinita para choro de criança e estivesse tentando me empregar para ser, sei lá, cirurgiã plástica e precisar ser objetiva e sair cortando a pele de todo mundo por aí. Posso aproximar dizendo que é como se eu tivesse estudado direito de família e agora tivesse resolvido tentar uma vaga em direito penal. Mas na verdade, embora o conhecimento que as pessoas que amam a área de RH tem e eu não tenho, seja relevante, eu sinto que eu perco apenas por ser quem sou: não, eu não sou exatamente objetiva. também não sou exatamente prática e tampouco sou um exemplo da racionalidade. Sou sensível sim, gosto de ouvir as pessoas sim, gosto de pensar nas coisas sim. Contudo, nunca deixei de entregar um relatório no estágio antigo, nunca deixei de estar lá na hora certa, de fazer as coisas que precisavam ser feitas, de participar do planejamento, da execução, das reuniões com todos os envolvidos - do molequinho de comunidade que o projeto atendia ao diretor do museu que comandava o projeto. Nunca deixei meu irmão morrer de nada que eu tivesse que resolver rápido - uma febre, um corte, qualquer coisa que fosse necessariamente urgente - resolvo tudo, mas não por isso me acho uma pessoa prática e objetiva, porque me importo sim em como as coisas vão reverberar. Não posso ser boa trabalhadora porque sei chorar? Não posso ser eficiente porque gosto de conversar? Não presto pra fazer palestras motivacionais porque, porque eu gosto de ler, as pessoas supõem que eu não sei fazer um gráfico de forma rápida?
Minhas amigas de RH vão dizer que não é bem assim. Que eu estou exagerando. Talvez vão explicar as necessidades dessa praticidade, dessa objetividade, dessa necessidade de tudo isso... Talvez elas tenham razão mesmo. Talvez seja só essa minha desilusão. Talvez seja só essa certeza de que eu nunca vou estagiar fora da faculdade, porque sim, eu gosto de clínica, gosto de ler, gosto de falar com as pessoas, resolvo as coisas com calma... Talvez seja só esse ímpeto de ainda achar que eu não vou me vender em troca de salário nenhum, desculpa. Quem tem blog afinal, desabafa como quer, né. Mas no fim, é sempre a mesma coisa: quem tem problema é o Haiti.

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