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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Assertiva, eu?




Aí minha mãe filou aula e fomos passar quatro horas de nosso dia na reunião de condomínio. A pauta de hoje interessava bastante e era preciso fazer valer a chance de votar e tudo o mais (eleições feelings). Eu achei que seria um saco, considerei até levar um livro, mas olha, como boa admiradora dessa instituição chamada pessoa-humana que sou, me surpreendi com o quanto eu me diverti nessa reunião. Li tantos livros de Agatha Christie que fiquei pensando lá, naquela reunião de dezoito pessoas - "se aqui ocorresse um crime, quem seria o assasinado? e o assasino? e quais as motivações?" - o bicho tava pegando tanto por lá que eu achei várias respostas possíveis para a minha indagação sem pé nem cabeça.
De qualquer modo, era uma experiência riquíssima: senhoras de maquiagem azul e salto alto sentadas em cadeiras de plástico, senhores muito (realmente muito) grosseiros, moças muito gentis e advogadas chatas (óbviZzzZZz ne? que pleonasmo).
Sabe, eu juro que eu não sei o porque de eu fazer essas coisas... veja, eu sou uma pessoa extremamente pacífica, devotada a paz eu diria, realmente desejosa de uma vida estável e tranquila e nenhum pouco predisposta aquela máxima de que no fundo as mulheres querem adrenalina na vida e por isso se envolvem com os cafajestes e todo o tipo de escolha errada - definitivamente, se existe um padrão em que eu não me encaixo é esse: não quero adrenalina nenhuma. Queria viver numa diplomacia eterna, agradando gregos e troianos, num mundo em que as pessoas chegassem a decisões razoáveis, com facilidade. Eu detesto discutir. Eu detesto demonstrações de argumentos ideológicos e processos de convencimento. Eu detesto gente que tem prazer em discutir. Eu detesto fanatismo.
Contudo, ao mesmo tempo, existe algo em mim que se rebela, que antes que eu pense, está empinando o nariz e parecendo maioral e tão seguro que eu nem sei de onde veio - e eu me vejo, erguendo a mão, pedindo a palavra e falando. Falando em público, com toda elegância que eu puder alcançar, com o tom mais rouco da minha voz, sem gaguejar, com as palavras mais bem escolhidas: falando e alfinetando algúem. Sabe, eu realmente não gosto de gente grossa. Não sei como me portar quando as pessoas são indelicadas, e hoje alguém resolveu ser indelicado com a minha mãe na reunião de condomínio. É por coisas como essa que é tão difícil viver em coletividade, as pessoas simplesmente carecem de bom senso. E eu, quando vi, era a pessoa mais nova da reunião, dizendo a um monte de gente muitíssimo mais inteligente e bem sucedido do que eu, que pelo amor de Deus, tivessémos um grau mínimo de razoabilidade, que éramos todos adultos ali e que era muito importante que fossêmos para a reunião sem opiniões pré-concebidas, porque precisávamos ter a mente aberta para que pudessémos receber as sugestões dos outros, aquelas sobre as quais nunca tinhamos debruçado nossos pensamentos e que também, justamente para que tivessemos essa flexibilidade era obrigatório que não agíssemos como fanáticos ou como crianças mimadas - cada um tinha direito ao seu próprio voto e nada se podia fazer a não ser pensar sobre as propostas e tomar decisões coerentes, porque afinal, o que carecesse do voto de 50%, com 50% estaria decidido, e o mesmo com 2/3 ou com 100% de aprovação.
Sabe, eu juro que não me dei conta que eu estava falando isso para pessoas mais velhas e mais espertas do que eu, meus vizinhos que verei quase todos os dias, especialmente para alfinetar um deles. Quer dizer, de onde veio essa pessoa que não sou eu? Porque ela sempre vem? Bom, saí da reunião sendo a melhor amiga da síndica e da sub-síndica que me abraçaram furtivamente para falar sobre o quanto eu me expressava bem e que quem sabe futuramente eu não seia síndica? (queridas, me vejam fazendo um gráfico algum dia e repensem isso, ok?)

Mas sabe, eu estava lá falando em público super confiante e agora estou me lembrando que minha terapeuta cognitiva passa deveres pra casa e eu meio que não fiz o dessa semana. Ok, eu fiz 50%. Uma parte dele consistia em fazer uma lista com as pessoas que me dão suporte na vida e dar graduações da satisfação que eu sentia (ou não) com a reciprocidade de nossos relacionamentos. Essa primeira parte casava muito bem com a segunda tarefa: ler capítulos específicos de um livro que ela me passou, sobre como falar assertivamente com as pessoas sobre as coisas, como deixar claro o que/ porque/ como eu me machuco e o que eu sinto ao invés de fugir pro meu casulo e ficar em silêncio e de pijama por quatro dias. E aí eu me dei conta que estou com nojo, asco, pavor de uma situação absolutamente risível e que nem é da minha conta e que eu nunca vou falar pra a pessoa que eu estou revoltada com isso. Nunca. Não tem jeito, eu acho que sou mesmo essa gazela que foge, silencia, fica estranha, sacode a cabeça, não socializa. Não sei. Não sei ser assertiva. Não sei pedir. Não sei expressar. Não li os capítulos e não estou colocando em prática o meu dever de casa, que deveria ser: ligar para a pessoa e explicar o inexplicável.. "então, sabe, eu surtei e sumi porque eu sou uma maníaca ciumenta e eu odeio a ideia que você não sabe escolher amigos e me abandona enquanto valoriza esse tipo de gente e isso me aborrece tanto e eu me sinto um nada na sua vida..." (já citei que eu sou mandona? e que eu sou dramática?) mas ao invés disso, eu fico aqui, parada, distante, em silêncio, deixando a pessoa imaginar o que diabos está acontecendo.

Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, Gabriela ou a assertividade guiará meus próximos dialógos?

Um comentário:

  1. "Eu detesto discutir. Eu detesto demonstrações de argumentos ideológicos e processos de convencimento. Eu detesto gente que tem prazer em discutir. Eu detesto fanatismo."

    "E aí eu me dei conta que estou com nojo, asco, pavor de uma situação absolutamente risível e que nem é da minha conta e que eu nunca vou falar pra a pessoa que eu estou revoltada com isso. Nunca. Não tem jeito, eu acho que sou mesmo essa gazela que foge, silencia, fica estranha, sacode a cabeça, não socializa. Não sei. Não sei ser assertiva. Não sei pedir. Não sei expressar."

    Transmissão de pensamento, trabalhamos.

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