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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

é tudo que vale a pena.



eu tava conversando com Nana esse fim de semana e eu tava me queixando muito da postura de uma pessoa, do jeito que essa pessoa tinha conduzido algumas coisas que eu discordava gritantemente por ter julgado que feria diretamente os sentimentos de muitas outras pessoas que eu gostava, o que seria ruim no meu conceitos mas poderia ser ok para a outra pessoa, já que ela podia não se importar, mas o pior pra mim é que o que essa pessoa fazia feria diretamente os sentimentos de pessoas que essa pessoa dizia gostar também e ela sabia que estava ferindo e persistia em suas decisões ainda assim.
por um lado, a conversa tinha um tom de auto-crítica, eu sei que sou uma pessoa radical. sou uma pessoa exigente. fico sempre analisando as coisas e guardo mesmo rancor inclusive de coisas que não foram exatamente comigo. não sei se isso é legal. por outro lado havia um tom de crítica sobre esta pessoa - que não deixa de ser uma pessoa com muitas qualidades e muitas características positivas, que fazem com que muitas outras pessoas gostem dela e a queiram bem e por perto. isso é absolutamente inquestionável mas, como eu acho que tudo na vida é escolha e que pra cada escolha seguem-se muitas consequências, hoje eu me deparei com uma frase de Harry Potter no perfil de alguém e acredito que sintetiza bem a minha opinião não só sobre esta circustância com esta pessoa mas sobre um olhar pro horizonte das pessoas que estão perto de mim. cheguei num ponto que é muito fácil achar as pessoas gente-boa, simpáticas, carinhosas, expansivas, inteligentes ou interessantes. díficil é achar carater, força interior, clareza e coerência entre pensamentos e ações.
resumindo a ópero do malandro, acho que o Dumbledore acertou em cheio quando disse isso ao Harry: "São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades.".
acho que independente do meu grau de radicalismo ou intransigência em assumir isso, eu não quero assim tão perto de mim pessoas que escolhem por egoísmo, vaidade, mentira, preguiça, descaso, desprezo, excesso de confiança no amor do outro ou necessidade de afirmação ferir alguém que dizem amar.

sábado, 28 de agosto de 2010

o sexo na cidade



então ontem lá pra uma da manhã a gente tava sentado numa mesa do nosso point de fim de noite, a.k.a Frans Café, falando de sexo. quatro homens e duas mulheres. primeiro, vale ressaltar que abri minha mente para o mundo - nunca tinha manjado o que é first fucking - nem sabia que isso existia, na verdade (é assim que escreve?) -e agora que manjei já defino que na minha terra, o nome disso é parto e seus orgãos internos agradecem.
sabe, pode ser de ser tudo uma grande viagem minha, até porque falar de sexo é uma coisa bem delicada - a qual eu nunca me atrevi antes na vida - mas eu fico meio assustada com esse mundo, com essa geração, fico prestando atenção em como estamos perdendo o jeito para simplesmente aproveitarmos as coisas, sabe? como diz o Jorge Forbes, é uma coisa meio "elogio do excesso".
sexo é bom? é. tem que ser, eu acho. fomos preparados naturalmente, biologicamente, com um corpo com recursos para gostar de fazer sexo para atender pressupostos básicos, inclusive. então porque a gente incrementa tanto o sexo, deixando o sexo em si não ser suficiente?
vivemos nessa época tão louca, tão correndo atrás de um curtir a vida adoidado, onde todo mundo brada tanto o quanto goza, como goza, com quantos goza, onde goza, etc etc etc que virou mais uma competição provar quem curte mais que o outro.
nada contra as fantasias - e cada um na sua né - mas acho que daqui a um tempo vão reduzir a coisa de uma forma que só vai ser possível ter sexo bom se for com sete pessoas, ou com um liquidificador, ou com uma batata doce ou com um travesseiro de fronha de personagem de mangá (alô japão) num espiral infinito onde quanto mais se exige esse gozo sem fim mais se cobra por ele e mais se perde o tesão. transformar prazer em missão é um lance meio arriscado, na minha concepção.
até porque, vê bem, se você sabe que vai sair com um amigo hoje, o que você faz? coloca uma roupa confortável, prepara seus melhores assuntos, prende o cabelo de um jeito que não te incomode e opa, lá vão vocês. o amigo em si, o encontro em si, o seu conforto em si, a sua vontade de estar ali são coisas tão naturalmente boas que a sua tarde acaba sendo sensacional, que você curte muito, que você se predispõe a viver na inteireza: você coloca o pé no chão, você ri de você mesma, pode ser que você tropece e caia e tudo vai continuar bem. agora imagina que você vai sair pela primeira vez com aquele cara que você paquera a uns cinco anos pra um jantar num restaurante elegantíssimo: tá lá você nervosa, com um vestido lindo mas nada confortável, no seu maior salto, super preocupada com o que vai dizer, com uma maquiagem que não te deixa coçar os olhos e tensa com aquela vontade de agradar. me diz, como é que você vai poder curtir com tanta pressão, sabe? mais uma vez você transforma algo que você quis muito, que devia ser bom pra caralho, em algo que vem cheio de pressões, de exigências, de modelos, algo que não pode ser bom por si só.
pra mim esse negócio de ter que ter cavalos (CAVALOS? pelo amor de DEUS!); sete pessoas ; amarrações ; vela queimando o outro ; três vibradores ; xixi ; etc (nada contra né, cada um na sua) é aquela coisa de subterfúgio que a gente usa pra variar, mas depois fica meio receoso do tipo: e se depois disso o de antes não for suficiente?
a gente coloca tanto enfeite no meio de um processo tão simples que pra mim parece aquele povo que tá de dieta e por isso tá comendo salada - a pessoa não gosta de salada, então ela joga sete molhos, batata palha, torrada, croutons, maionese e o que mais vier, porque sim, ela tá comendo salada mas ela não quer nem sentir o gosto. acho um perigo quando a gente perde o gosto das coisas da vida ou quando a gente precisa de tanto que o simples nunca mais pode ser especial.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

atualizando

eu dei uma sumida porque o santo responsável por dores no corpo julgou que dor de joelho é coisa pouca e me arranjou uma virose loucassa que se misturou com minha sinusite e resultou num combo bastante animado de dor de garganta + dor de ouvido + dor de cabeça + enjoo + espirros e tosses. uma gracinha, né? tem três dias que eu não tenho ânimo pra quase nada. nesse meio tempo até que algumas coisas aconteceram.

essa mesma virose louca impediu meus avanços e intenções de escrever meu nome na história da nerdice mundial. simplesmente esse semestre eu li todos os textos que os professores passaram e eu tive acesso (tem uma professora que passa textos por email, e alguns não chegam pra mim, vá entender né). isso significa na prática que eu li mais esse semestre do que em todos os outros seis semestres juntos. isso mudou um pouco meu parametro de estudante. sinceramente, tirando o semestre passado, eu nunca fui uma má aluna, ok, nunca fui a nerd-louca-dos-textos mas nunca fui uma má aluna, sempre tirei notas boas (em todo semestre eu abandonei uma matéria, mas não vamos falar sobre meus sintomas tá?) e tenho uma relação boa com os professores, de eles até me convidarem pra cursos e me mandarem emails com coisas relacionadas a psicologia que eles acharam que eu curtiria saber. mas eu sempre fui daquelas alunas que precisava da aula justamente porque não lia o texto. agora que eu leio o texto, os professores me dizem o que eu já sei. vamos ver como vou me adaptar a meu novo modelo. ainda falando de nerdice, dei um tempo com a procrastinação e me inscrevi num curso. o professor é super bom - já fiz outro curso com ele - e vou ocupar minhas tardes de quarta-feira o que talvez faça meus pais pirarem menos no meu vício pelo jogo de buraco do orkut. o engraçado é que esse professor não é psicanalista e tá aí no meu maior currículo de cursos feitos. coerência é um dom pra fracos, né não? eu curto mesmo são os seres humanos, acima das teorias.

comecei a fisioterapia e olha, que dor viu. a fisioterapeuta é uma queridinha e se impressiona como eu consigo deixar um músculo atrás do joelho tenso assim. mas é verdade, eu sou dessas pessoas tensas com sede de controlar tudo que acontece, admito, mas combinamos de não falar de sintomas, né?

uma das minhas melhores amigas de tantos e tantos anos foi morar um semestre na Espanha. olha, minha ficha sinceramente ainda não caiu. essa amiga é amiga desde o colégio, e sempre foi daquelas mais tímidas, é muito legal ver ela abrindo asas pra voar e ao mesmo tempo é muito triste ficar longe dela. não consegui ir no aeroporto me despedir - não posso dirigir, estava sem carro ainda assim e estava morrendo de virose louca - e isso é triste, queria ter dado mais um abraço pra desejar coisas boas e é aliviante, eu realmente odeio despedidas e distâncias.

agora eu vou ali pegar um campeonato de futebol no playstation com meu irmão e minha mãe. por enquanto eu sigo campeã invicta.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

belo estranho dia pra se ter alegria

eu costumeiramente abro o blogspot quando quero me queixar de coisas que ninguém vai ter saco ou vontade de compreender ou quando preciso falar até para pôr ordem - colocar moldura - nas coisas que pipocam por aqui. daí o tom do blog vai de reflexivo a queixoso em 90% das vezes. hoje é uma das vezes em que vou escrever um post diário-feliz porque as últimas vinte e quatro horas foram o que eu chamaria de "dia dos sonhos da minha vida".

eu me matriculei numa matéria chamada tópicos especiais em psicologia 3, e como todo estudante de universidade particular do brasil já sabe, obviamente isso deu em mangue. a faculdade oferece três matérias que são tópicos especiais 1, 2 e 3 mas na proposta de matrícula ela não especifica que o tópico 3 a temática é tal, o 2 é tal, e o 1 é tal. eu acreditei que tinha me matriculado em tópicos especiais de Psicologia Analítica, depois eu fui informada que na verdade eu estava matriculada em Tópicos Especiais em Psicanálise e cultura e por fim, eu estou matriculada em "Tópicos Especiais em Psicologia Cognitiva - Terapia Cognitiva com pacientes altamente reativos". depois de subir e descer mil escadas (as pessoas saudáveis insistem em lotar o elevador da universidade em tempo integral de forma que as pessoas mancas e de muletas tem que ficar subindo e descendo de escada mesmo, se gostarem de cumprir os horários das aulas.) eu achei a sala e descobri que meu tema da matéria era esse. olha, não vou mentir que esse era o tema que me dava menos tesão, mas a professora é muito boa e eu supionho que essa classificação de pacientes reativos e coisa e tal vai me ser muito útil pra eu fazer casadinha com os conteúdos de psicopatologia 1. acho que quando eu troquei de óculos (pois é, agora eu sou a cara do caio junior, né) eu comprei um óculos de pollyana, né? mas isso é bom.

de tarde levei minha mãe pro cinema - na prática ela que me levou porque eu não posso dirigir, né - e eu adoro fazer isso. assim, adoro ir pro cinema em dias da semana de tarde, claro que isso mostra que eu sou desocupada, mas acho que me mostra também que eu sou dona do meu tempo para fazer coisas que me dão prazer e não só pra cumprir obrigações burocráticas, sabe? de qualquer forma também, eu e minha mãe raramente saímos com o simples intuito de juntas nos divertirmos. eu e ela vamos juntas ao médico, a farmácia, ao supermercado mas raramente fazemos algo pela simples razão de ser gostoso de fazer - o que eu acho uma pena, mas ela não tem muito tempo mesmo pra isso. enfim, re-assisti A origem e continua indo pro meu TOP10 de filmes sensacionais (que se eu fizesse aqui agora sem muita reflexão ou tempo de me preparar pra impressionar alguém seria basicamente e fora de ordem a medida que foram escritos simplesmente porque me surgiram na mente: ilha do medo ; brilho eterno de uma mente sem lembranças ; quinhentos dias com ela ; os infiltrados ; gran torino, up altas aventuras, o segredo dos seus olhos ; a origem ; annie hall e vicky cristina barcelona) e eu sigo recomendando que todo mundo assista.

de noite fui pra um show maravilhoso do ney matogrosso. olha, ele canta demais, repertório finíssimo, voz maravilhosa, performance sensacional. valeu a pena vencer todo o acumulo do meu sono e toda a maratona da muleta, porque ele é demais mesmo. além disso, meus amigos embutidos na fila lotada para comprar os ingressos de los hermanos foram bem sucedidos, então, outubro estaremos lá na Concha, o que é muito, muito, muito nostálgico e feliz, sabe? Los Hermanos é uma banda que me lembra de uma juliana que há muito eu não sei se sou, embora ainda seja em alguma medida.

hoje eu acordei morrendo de sono pra ir pra aula de psicopatologia (sim, eu sou aquele tipo de ser humano que dorme umas doze horas de um dia pro outro, se deixar) e olha, foi a melhor aula da vida. o tema: arte e loucura. coisa linda de encontro. de um lado a arte se mostrando como "terapia" para alguns casos e como "prevenção" para outros. mas o ponto alto mais sensacional foi quando a professora começou a passar imagens dos quadros de Louis Wain - que era um pintor que pintava "gatinhos humanizados" quando ele estava bem e nos momentos de crise total de sintomas psicóticos. olha só que coisa clara que fica, na diferenciação dos limites, cores, formas e bordas dos gatinhos (pode jogar no google, que acha mais coisas e bem mais específicas):



um gatinho de Wain antes dos sintomas de psicose, com fundo detalhado e aspecto bastante humanizado e organizado



início da psicose - pêlos eriçados, olhar assustado, fundo menos detalhado. já dá pra notar uma diferença de aspecto, né?




desenvolvimento da psicose - maior profusão de cores e a presença de mandalas ao redor do gato - sinal comum em pinturas de psicóticos



estado avançado de psicose - alto grau de desorganização e perda dos referenciais de forma



você ainda consegue ver um gatinho aí?!

obrigada a todos os envolvidos nas últimas vinte e quatro horas, por favor, estendam aê esse plus pro fim de semana todo, combinado? e que na semana que vem eu continue aprendendo coisas úteis e gostosinhas, que nem os gatinhos de Wain.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

inconsciente

Recebi esse texto do Ivan por e-mail e amei, porque ele acabou falando de muitas das discussões que permeiam a minha escolha de linha teórica na faculdade ; como a família acolhe (ou não acolhe) essa escolha , como os outros - amigos, médicos, etc - a veem e como eu a vejo. Enfim, o texto é bom inclusive pra quem nunca fez análise e quer descobrir um pouquinho mais. Fora isso, pode ler o Rubem Alves e o Calligaris que não tem erro não (só tem prazer, aliás). Pra quem tá interessado no inconsciente, corre pro cinema pra ver "A origem" também, depois disso, eu tenho prestado bem mais atenção nos meus sonhos.

* Clicando no nome dos dois, o Rubem e o Contardo, veem textos complementares pra essa visão que o texto do Ivan traz aqui embaixo.



Com quem você sonha?

Os sonhos dizem coisas importantes a nosso respeito
Ivan Martins
É editor-executivo de ÉPOCA

"Duas noites atrás eu sonhei com a Gisele Bündchen. Não havia no sonho, juro, nada que não pudesse ser contado num almoço de família, mas, mesmo assim, ele me causou vergonha: por que um homem adulto sonharia com a modelo mais famosa do planeta? Não parece coisa de adolescente ou de leitor de revista de mulher pelada?

Como ontem era dia de análise, levei o assunto para a minha psicanalista. Ela ficou instantaneamente interessada. Quis saber detalhes, sensações e ideias que haviam me ocorrido ao despertar. Meu embaraço com a situação, que persistia desde que eu saí da cama, foi dando lugar à impressão de que, bolas, talvez houvesse algo ali além da revelação de que funciona no meu cérebro um canal clandestino do E! Entertainnment.

Ao final, falamos boa parte da sessão sobre o tal sonho. A conclusão foi que havia nele uma manifestação de contentamento comigo mesmo. Explico.

Para além da sua existência real, como pessoa, a gaúcha de Horizontina – que, aliás, fez 30 anos no último dia 20 de julho - tornou-se um símbolo de beleza, feminilidade e fortuna. Sonhar com ela, num contexto agradável, equivale a sonhar que você está dirigindo um carro conversível numa estrada da Provença: denota tranqüilidade, confiança e sugere que você não deixou de ambicionar coisas legais. Pelo que, entendi, é uma espécie de “Yes, you can” gritado lá do fundo do inconsciente.

Fiquei contente com essa interpretação. Ao contrário das pessoas que viraram as costas para Freud – ou que nunca souberam das suas teorias – eu acredito que os sonhos me contam coisas que eu não sabia sobre mim. Eles revelam ou explicitam estados de espírito. Eles trazem memórias submersas, pescadas pela rede das emoções recentes. Eles abrem portas para pedaços inconscientes da minha mente aos quais eu não teria acesso de outra forma. Sonhar é conversar comigo mesmo, algo que nem sempre é agradável, mas frequentemente é util.

Uma das coisas que eu não tenho feito, mas já fiz, com grande proveito, é tomar nota dos sonhos enquanto eles ainda estão frescos na memória. Depois de um tempo fazendo isso, a gente se acostuma a memorizar, anotar e refletir. Com auxílio do analista, ou mesmo sem ele, passamos a interpretar aquele material incoerente e desconexo. Aos poucos ele ganha sentido e nos põe em contato com sentimentos e sensações menos óbvios.

Ao incorporar o inconsciente, através do sonho ou da análise, a vida ganha outra dimensão existencial, que eu comparo ao mergulho submarino. Quem vai à praia e nunca mergulhou desconhece aquela vastidão submersa na qual um mundo inteiro coexiste em silêncio com o mundo da superfície. Fazer análise é como mergulhar no oceano interior: acrescenta uma nova e vasta dimensão à nossa realidade.

Nem todo mundo concorda com isso, claro.

Tive namoradas que me davam vontade de segurar pelo pulso e arrastar ao consultório mais próximo, tamanha e tão óbvia a necessidade que elas tinham de tratar suas dificuldades interiores. Tenho amigos e conhecidos a quem uma ou duas consultas semanais fariam muito bem, mas eles juram que não é o caso. E não se trata somente de dinheiro. As pessoas têm objeções intelectuais e resistências emocionais à análise. E muitos foram contaminados pela ciência meia boca que circula por aí decretando a morte da psicanálise – e a sua substituição pelo vácuo mais atroz e mais absoluto.

Se você está em depressão ou com síndrome de pânico, alguém vai lhe oferecer um remédio. É bom que o faça. Os remédios ajudam. Mas o que a ciência oferece antes ou depois disso? Quando você está “apenas” angustiado, infeliz ou perdido, o que a psiquiatria tem a dar? Uma pessoa que não acha graça na vida, no corpo ou no convívio com seus semelhantes faz o quê, toma pílulas? Eu acho que não.

Para quem não está doente, para os bilhões de neuróticos normais do planeta, a terapia pela palavra ainda é a forma mais eficaz (senão a única) de tratamento. Ou ao menos de autoconhecimento.

Se dependesse de mim, todo mundo ganharia na adolescência um voucher com direito a duas horas de análise semanal por 10 anos, passível de renovação. Acho que o mundo seria um lugar melhor. Nele, as pessoas poderiam acordar acabrunhadas com um sonho, levá-lo ao analista e descobrir, pelo processo de análise, que não havia ali motivo de vergonha, mas, sim, para celebração. Será que existe algo mais necessário do que livrarmo-nos das nossas vergonhas íntimas?"

(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

sincronicidade

a vida prepara umas surpresas assim do nada né? daí que outro dia eu tava aqui me queixando que eu sou sensível-demais-mimimi-não-vou-dar-certo-na-psicologia-o-que-fazer-como-proceder-etc e hoje a vida veio com esses embrulhos que ela dá só pra fazer a gente se questionar mais uma vez e não se contentar mais com as respostas que a gente tinha achado pra a primeira reflexão.

meu professor tava lá dando aula hoje, diferenciando sinais de símbolos para as linguagens conscientes, egóicas e inconscientes e exemplificando esse vocabulário com a hermenêutica dos sonhos de determinado paciente. daí, a partir desse quadro, sabe o que ele fala? "precisamos rever tudo isso, temos que parar de ser coptadores do inconsciente alheio, parar de buscar sinais que se encaixem em nossos rótulos e teorias já pré-determinados. nós temos que ser é pessoas sensíveis a dor do outro para estarmos com o outro"

olha, foi alívio ouvir isso, viu? abriu várias portas para voltar a pensar em outras coisas e bateu completamente com um relato que chegou até mim por msn sobre psiquiatras que sentiam e se mostravam humanos.

de qualquer forma, passei uma hora hoje esperando sentada pela professora responsável pela grade de pesquisa e descobri que oito professores vão abrir seleção para alunos na iniciação científica. preciso de todas as rezas possíveis para que haja pelo menos um conjunto de bom funcionamento de interesses entre eu/ um professor / um tema / uma vaga para mim.

por outro lado, é hora de cantar 'vida devolva minhas fantasias, meus sonhos de viver a vida, devolva meu ar' para a faculdade: não consegui ajeitar minha matrícula justamente na matéria desse professor que falou essa coisa tão linda hoje, então, vou ter que dar o fora dessa matéria. é uma pena.

ah, hoje estreei minha lancheira na faculdade, porque, vamos convir que gastar quase cinco reais todo dia com o café da manhã não cabe no meu orçamento. foi um momento lindo eu e minha lancheira da pucca nos conhecendo na mesa do pátio.

e sábado é dia de médico porque a ressonância do joelho podre deu um edema na esponja do côndilo femural. não faço ideia do que isso significa, mas no meu vocabulário eu faço a tradução: segue doendo pacas.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

etmologia das palavras

Eu sou uma pessoa que acredita que a etmologia das palavras já desvenda um pouco de seus mistérios porque norteia as suas relações e as suas origens, como um GPS que diz onde elas estiveram antes de estar em nosso texto. E ainda, se analisarmos friamente, de uma mesma palavra podem nascer outras tantas palavras...
Esse comecinho de semestre eu estou até dada a estudar e foi num desses estudos noturnos de psicopatologia que eu me deparei com um texto do Paulo Ceccarelli explicando a formação do termo "psico-pato-logia". Olha que coisa linda que ele escreve logo no primeiro parágrafo do texto:

"A palavra "Psico-pato-logia" é composta de três palavras gregas: "psychê", que produziu "psique", "psiquismo", "psíquico", "alma"; "pathos", que resultou em "paixão", "excesso", "passagem", "passividade", "sofrimento", "assujeitamento", "patológico" e "logos", que resultou em "lógica", "discurso", "narrativa", "conhecimento". Psico-pato-logia seria, então, um discurso, um saber, (logos) sobre a paixão, (pathos) da mente, da alma (psiquê). Ou seja, um discurso representativo a respeito do pathos psíquico; um discurso sobre o sofrimento psíquico1 sobre o padecer psíquico. A psychê é alada; mas a direção que ela toma lhe é dada pelo pathos, pelas paixões."


Agora vem a minha cota de viagem do dia: sabe quando seus amigos ficam apaixonados e você diz que eles estão exagerando, que aquilo está excessivo, que eles precisam ter uma postura mais acertiva ao invés de serem tão passivos do que o parceiro diz, que eles precisam parar de se asujeitar? sabe quando vê que eles estão sofrendo, que aquilo está patológico? pois é, você não foi o primeiro que notou esse tipo de ligação porque não é possível que seja a toa que todas essas impressões derivem da mesma palavra.

Não é a toa também que a gente fica estudando como as paixões afetam a lógica da nossa alma/mente. Tem coisa que afete mais a vida da gente do que nossas paixões?
É que nem quando em "O segredo dos seus olhos" o Sandoval, no bar, explica pro Benjamím que as pessoas podem mudar tudo, de aparência, de vida, de casa, de gostos mas que ninguém abandona suas paixões.

Não é lindo?

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

que maravilha



ser gênia é a minha sina, algo facilmente comprovável. eu, este protótipo de ser humano, que chora no cinema até em filme sessão da tarde (alô você que chorou na historinha do unicórnio em 'meu malvado favorito', vemnimim), que chora até quando as crianças pequenas ficam embaraçadas em apresentação da escola e começam o chorôrô e que chora até em casamento de primo de sétimo grau resolvi logo cursar a PSICOLOGIA, graduação para quem quer ser PSICOLOGO. sabe psicologo, aquele profissional que AUXILIA com algum grau de razoabilidade, racionalidade e imparcialidade as pessoas que tem problemas e ou dificuldades? pois é. mas me diz, como é que eu fui me meter nisso? já desisti de procurar os estágios mais interessantes do mundo porque né, eu não dou conta. não a.d.m.i.n.i.s.t.r.o.
Fui pra um dia-de-palestra com Maria Helena uma vez, ela é uma das bam-bam-bams do Quatro Estações, instituto que dá conta de atendimentos de emergência em situações de catástrofe/desastre. Quando o avião da Tam, por exemplo, caiu nas casas ali ao redor de Congonhas em São Paulo, os pciologos do Instituto logo foram contatados para fazer atendimentos que se iniciavam ali mesmo na calçada. A mesma coisa com a enchente de Santa Catarina. A mesma coisa com o acidente do buraco do Metrô de São Paulo. Eu ouvia as histórias dela e só conseguia pensar: se nêgo chega em mim lá no passeio, com mil bombeiros apagando fogo de destroços de avião com gente que era da família dessa pessoa, pra me dizer que sei lá, o noivo dela que ia casar na semana seguinte acabou de morrer lá dentro, que atendimento eu faço? nenhum, eu abraço e choro, muito provavelmente.
Esse é um problema muito sério pra mim, sabe? Eu chamo isso de 'incapacidade de virar adutla' que também pode ser chamado de 'incapacidade de virar mãe'. Quando meu irmão fica doente, por mais sério que seja, minha mãe mantém a sanidade, continua fazendo as coisas e cuidando dele com um altíssimo grau de razoabilidade. Eu ligo pra ela se a febre dele subir, hum, vamos ver, 0,2? Fato. Não consigo me importar com a disposição de roupas num cabide, durmo em cima da colcha, não me importo de me alimentar de cup noodles para não ter que lavar panelas, não me lembro que preciso calibrar os pneus e não tenho estrutura emocional para solicitar ao comissário de bordo que me sirva de mais guaraná sem que ele se ofereça - se ele não me oferecer o guaraná, pode ter certeza que eu fico com sede.
Toda vez que penso na eminência de muitas pessoas em sofrimento esperando por conforto e ouvidos imparciais eu me desespero. Eu não estou muito certa de que eu tenho a capacidade de fazer isso. E olha que eu entrei na faculdade super afim de trabalhar com CLÍNICA. Um beijo pra quem não tem bom senso nem autoconhecimento suficiente, né verdade.
Durante muito tempo eu achei que essas eram questões ligadas a minha adolescência/juventude, que quando eu de fato crescesse isso mudaria. Bom, estamos aí com 21 anos e seguimos nessa vida - o que me faz crer hoje em dia que, eu só mudaria se eu tivesse um filho/ quando eu tiver um filho porque a eminência de uma vida que inteiramente depende dos meus esforços e conehcimentos durante um tempo deve ser combusítvel suficiente para que eu tenha coragem de agir e de me acalmar. Enquanto o filho não vem, eu já estou no sétimo semestre da faculdade e me dou conta que por razões óbvias como facilidade de comunicação e o desejo e vontade de trabalhar com adolescentes/jovens somado a inabilidade de lidar diretamente com o caos mental das pessoas me leva pela mão a docência. E a docência me leva pelas mãos a pesquisa. Seria tudo ótimo, eu seria uma gênia e teria achado uma solução.
Lêdo engano. Eu tenho medo da pesquisa. Tenho medo de não conseguir dar conta das demandas temáticas da pesquisa - violência sexual? suicídio? grupos de terapia de pacientes terminais? - embora ela me pareça um caminho natural já que, por exemplo, quando eu vou pra uma seleção de estágio numa área organizacional, por exemplo, eu sei que não tenho o perfil e nem sequer o desejo de ganhar aquele estágio. Já no caso da pesquisa, eu sou curiosa, gosto de ler, gosto de escrever e gosto de trabalhar em equipe.
Estou - atrasada, para ser bem tipicamente eu - pegando Pesquisa Acadêmica 1 na faculdade e estudando os processos de pesquisa. É chato de doer, mas não é que me formiga? Que me desperta um interesse? Sei que vou descobrir muito sobre pesquisa esse semestre e inclusive sobre o grupo de pesquisa da própria faculdade que está sempre recrutando alunos. Quero me inscrever. Agora me diz: cadê meu adultismo e minha coragem? Será que nisso eu consigo seguir adiante?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

tumblr day

agora o anhamclaudia também vai até você (alô comercial ruim de lojas de eletrodomésticos me ligou e pediu o discursinho ridículo de volta) em petiscos de imagem e textos no seguinte link: http://anhamclaudia.tumblr.com/

a gente se vê lá. e segue se vendo aqui também.