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domingo, 12 de setembro de 2010

Mao




Fui dormir as três da manhã e as oito, num domingo, eu já estou aqui, acordada. É que uma vez no mês, mais ou menos, eu sonho com uma pessoa e acordo "putz-e-agora-?". Os sonhos nunca são iguais e sempre abordam questões primordiais da minha vida - ou das besteiras que eu faço com ela - sem nenhum compromisso com nenhum aspecto da realidade.

Acordei do sonho de hoje com a angústia mais sincera pensando "eu preciso emagrecer. como eu posso fazer isso?". Acho brinks total como meu inconsciente escolheu a pessoa mais escrota do mundo para personifica-lo! O porta voz da voz da minha mente aparece mensalmente pra me lembrar de que o fato de a minha vida não correr pra lugar nenhum e de as coisas não acontecerem é culpa minha, das minhas escolhas e de quem eu sou - que, de certo modo, está fadado a não ser nunca boa o suficiente pra nada nem ninguém e sabe que destino é morrer de medo a cada vez que as coisas degringolam mais, porque né, elas só vão acontecer sem que eu possa evitar, então me cabe ir aprendendo a administrar.

Se chamássemos o inconsciente por um nome e por um rosto eu nunca chamaria o meu, porque é uma piada de péssimo gosto o quanto até as minhas representações, projeções, sonhos e transferências podem ser feitas por mim mesma para me machucar. O interessante é saber que, aquela pessoa que fica aparecendo na sua mente não é uma pessoa - não tem gostos próprios, desejos, sonhos, birras, personalidade. Aquela pessoa que aparece na sua mente é uma construção toda sua para ocupar um espaço, sabe? Pode ser que tenha sido uma pessoa querida na real life mas foi alçada ao posto de Grande Outro impossível de ser alcançado nos terrenos do inconsciente e está sempre estendo uma vida para mostrar como a vida dele funciona enquanto a sua está uma grande bosta e é tudo uma questão de escolhas, prioridades, saber o que fazer. Ele sempre sabe e você nunca sabe. E uma vez por mês ele vem te avisar e rir da sua cara e jogar na cara as pendências que estão doendo e que você se recusa a resolver.

Quando eu fui ver "A origem" (se você não viu ainda, corre lá pra ver esse filme! imperdível!), me toquei profundamente pelo problema de ter a Mao lá na cabeça dele, bagunçando as coisas, confundindo tudo - você nunca vê as coisas como são, porque você tá sempre vendo através do seu desejo de agradar os olhares julgadores de suas próprias projeções. Mas a minha projeção é igual a Mao, só chega no meio dos meus planos pra cagar com tudo, pra atrapalhar, pra me lembrar do fiasco que eu sou no simples conduzir da minha vida, pra escancarar os segredos e zombar de mim. Quando eu encontro a pessoa real que não tem nada a ver com a pessoa que personifica o meu inconsciente, eu nunca consigo ser eu mesma posto que estou sempre me relacionando com a minha pessoa imaginária e nunca com a pessoa real e sempre com a minha pessoa imaginária e várias vezes não com as pessoas reais que chegam e querem se relacionar de verdade.

Eu até entendo, Mao. Juro que até entendo que você apareça pra chacoalhar. Que no fundo no fundo você deve vir aqui jogar bosta no ventilador pra ver se eu faço alguma coisa concreta com as razões da minha tristeza. Que você gosta de me deixar desnorteada, me sentindo uma idiota. Tudo bem. Vou levando como posso, como sempre, há tanto tempo isso.

Mas porra, para de sacanear o meu sono. Hoje é domingo!

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