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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

tempo tempo tempo tempo



Hoje eu comecei a terapia nova. Desde Janeiro eu tava a toa na vida esperando meu amor me chamar pra ver a banda passar tocando coisas de amor - ninguém chamou, nada tocou, sem banda nem música de amor, nem gente alegre, nem moça feia. Sem inspiração. Passei sete meses empurrando os dias, esticando a preguiça e não-lutando contra a inércia. Me decepcionei, tive o pior semestre da minha vida estudantil na faculdade e quando as coisas começaram a degringolar muito e de vez, me convenceram que era hora de dar um tempo e fazer alguma coisa mais providencial do que ficar me segurando na bóia para não afundar, sabe? Talvez fosse hora de nadar e chegar na praia e construir castelos e dizer "porra, isso tudo faz um tremendo sentido. que maravilha né?". Talvez fosse tempo de abrir mão do bolsa - depressão que a querida Fabiane cunhou aqui.

Faço vinte e dois anos no domingo - obviamente estou numa crise inevitável, dessas que meu professor maravilhoso do curso de sistêmica diz que são as crises esperadas da vida, as crises que vem nas fases definidas da vida, ou seja, se nos anteciparmos com sabedoria a elas, já saberemos que virão e virão. Adoro quando ele diz que "entrar em crise é reagir normalmente a um fato anormal". Quem é humano sabe como hoje em dia esse lance de reagir normalmente é visto anormalmente. Várias crises com esse aniversário. Várias crises com esse adultecer. Várias crises com esse não saber o que fazer dos dias, semanas, meses, anos, planos, acontecimentos, coisas, histórias.. várias crises com esse não saber o que fazer da vida e com tanta gente dizendo o que é que eu devo fazer.

Mas aí, tomando banho pra me arrumar pra esperar minha carona chegar, eu me dei conta. Arrumo Grandes Outros fodidos nessa vida, é verdade. Mas, quatro anos atrás, eu era uma garotinha que tinha horário pra chegar em casa e um namorado que reclamava horrores disso e a criticava sempre que podia. Hoje em dia eu já atropelei um cara. Já passei em uns cinco vestibulares. Já fui convidada pra escrever numa revista de psicologia. Já tive meningite. Já terminei cinco namoros. Já fiz quatro anos de análise. Já larguei uma faculdade. Já aprendi a dirigir. Já trabalhei. Já tomei conta do meu irmão pros meus pais viajarem.
Hoje em dia eu sou uma garotinha colocando os dois patinhos na lagoa, que depois de dar o dinheiro pro irmão sair com a babá e o amiguinho, depois de um dia todo de aula e de terapia, vai ali com os amigos passear sendo que tem aula amanhã e sabe que ninguém comanda sua hora de voltar pra casa ou sua responsabilidade de comparecer a faculdade amanhã a não ser ela mesma - ainda que em passos pequenos, será que eu tenho o direito de ir me parabenizando por estar andando pra frente?
Será que algum dia eu vou me permitir ao invés de ficar me cobrando sempre mais e mais e mais e todo o esperado pra a minha idade e pra além dela, eu vou poder comemorar as coisas que eu já fiz?


"As coisas que ganhei/ nenhum troféu / como lembrança / pra casa eu levei.
As coisas que perdi / essas sim / eu nunca esqueci/ eu nunca esqueci."

Pato Fu.

Um comentário:

  1. Querida, eu só te conheço pelos seus textos, mas pelo que li dá para ver que você está crescendo e evoluindo. A vida não é editada que nem filme, então as coisas acontecem lentamente; é difícil perceber que estamos mudando, que a vida está diferente do que era. Você está cada dia mais sábia, se conhecendo melhor, e você é tão novinha! Vá com calma. Ainda há muito a aprender, mas o seu caminho já é bem longo e foi muito bem percorrido :)

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