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terça-feira, 4 de maio de 2010

Whatever works.




Acho que muita ansiedade acaba tirando muito da possibilidade de se sentir prazer quando enfim consegue-se realizar o desejo. Depois de esperar que o filme começasse a passar em Salvador (coisa que não acontece, embora vinte e cinco salas de cinema estejam passando Alice e Homem de Ferro 2), acabei assistindo Whatever Works, novo filme do Woody Allen, aqui em casa, graças ao DVD que um amigo querido me emprestou.

O filme é muito bom e, pra mim, fica ainda melhor quando os pais de Melody aparecem. Tem momentos realmente iluminados - como a cena em que Melody termina com Bóris, a reflexão final dele, a teoria completa para não-explicar o amor e toda a trajetória do filme em descontruir o conceito de sentido e significado, tão intrisecos a nossa cultura ocidental mesmo apesar da conversa de "completude impossível" da psicanálise.

Me aborreceu um pouco o novo amor de Melody e Randy, porque acho forçoso demais ver alguém lânguido e loiro uma vez e a partir daí se auto-proclamar apaixonado o suficiente para bagunçar um casamento (tendo aparato e suporte da mãe da moçoila, inclusive) - mas pensando bem, agora, sei que na vida real é assim que as pessoas jovens (alô, meus vinte e um anos tão ligando pra marcar presença) fazem as coisas: muita emoção, muita comoção, uma crença obstinada, nenhuma razão, muita esperança e muita vontade de experimentar coisas novas e viver a vida loka intensamente. Definitivamente, sempre me frustro quando o inteligente que, por mais torto e egocêntrico que seja, acolhe e ensina é trocado por outra pessoa, apenas porque esta é bonita. (não me venham com chorumelas, sem ter nunca conversado com alguém, é absolutamente impossível julgar se a pessoa é mais interessante ou não). Mas, o apego a beleza é inerente a juventude e, hoje em dia, essencial para continuarmos consumindo enquanto nos massificam na era da estética e das tatuagens de cerejinha. Sono. Tem uma hora que Melody fala pro Boris que ele perde de aproveitar as coisas boas da vida porque parece uma criança mimada fazendo birra porque a vida não é do jeito que ele gostaria que fosse. Olá, identificação. Ela podia ter dito pra mim. Basta reler a minha crítica aí em cima e perceber isso. O final do filme é bonito, e entendo porque a critica compare com Vicky Cristina Barcelona, expondo que há uma perspectiva mais otimista, mas me lembrou muito Annie Hall, com um final artístico, de pessoas que tiveram tantos conflitos e depois seguem circulando como se tudo fosse normal, como se tudo pudesse dar certo.


A grande questão que fica na minha cabeça agora, após ter assistido o filme é sobre o sentido do amor e a perpesctiva de seu término. Estar num relacionamento e amar é simplesmente engolir o outro, decodifica-los, nos apropriarmos do que julgamos melhor no seu discurso e depois dar o fora? Acho que não, realmente acho que não é isso, e até concordo com a perspectiva do filme de que o amor não é uma escolha e sim uma questão de sorte, acaso, jogo de dados cósmicos, mas não consigo deixar de me inquietar e me incomodar com o fato de Melody ter consumido o que havia de melhor em Bóris, somado ao que havia de melhor nela - o interesse nas pessoas, a esperança de um futuro melhor, a curiosidade pelas idiossincrasias de cada um - e então, o tenha abandonou para viver com o ator bonito que, (como diz @sobaminhalente quando quer me fazer sentir burra) eu não entendi a proposta da presença e da relevância no enredo. (sim, eu sei que Melody e Bóris eram realmente muito diferentes, que obviamente ela só se meteu na relação com Boris pelo mesmo motivo que se meteu na relação com o Randy: ser jovem, não saber o que está fazendo, ter sede de viver e ser facilmente impressionável/encantável/conquistável)(e sim, eu também sei que muito de Melody fica em Bóris durante e depois do desenvolver da relação, eu juro que entendi a proposta, viu @sobaminhalente)

De qualquer forma, acredito que o pleito é válido: aproveitar os bons momentos já que a finitude é certa, seja lá no arranjo qualquer que você faça, seja lá o que funcione.


Um comentário:

  1. HAHAHAHAHAHAHAHA Recado dado, que ótimo que você entendeu a proposta.

    Eu penso no filme como uma grande questão que gira em torno, não somente do fato de envelhecer, mas também no que tange esta questão de amar, ser amado e de aproveitar a vida. Para alguns, sentir isso é viver loucamente. Pra mim, seria viver intensamente (sem a loucura no meio). Por que eu falo isso?

    É bem simples na minha cabeça. Eu quero poder ter controle sobre as coisas que eu faço, principalmente porque as responsabilidades chegam cada vez mais cedo para a gente. Eu li no texto anterior seu você reclamando que estava desempregada e tudo mais. E isso você tem apenas 21 anos, entende? É disso que estou falando, dessas questões que começaram a ficar inerentes também à juventude e não apenas aos adultos depois que se formam e tudo mais.

    O que eu vejo em Boris é um cara que possui uma visão de mundo onde ele não consegue entender as ações das pessoas. No momento em que fala sobre música, por exemplo, parecia eu conversando com algum amigo sobre o assunto. É impressionante como tudo hoje é chamado de "rock", não é? Ele faz o típico conservador republicano e, por conta disso, deixou de aproveitar determinados momentos da vida. Ele finge não se incomodar mas, no fundo do roteiro escrito por Woody Allen, o seu personagem deve se incomodar assim como o escritor.

    Estou sem tempo aqui na casa do meu tio depois podemos discutir mais sobre assunto. Passei rapidinho para ler e comentar...

    beijos!

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