Pesquisar este blog

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Malditas cebolas.

Quando alguém faz uma coisa comigo e eu não gosto, me é costumeiro pensar em como seria que a pessoa deveria fazer para que eu gostasse. Muitas vezes, eu assumo, ainda que a pessoa fizesse do jeito que eu penso que é o jeito certo, em algumas situações, ficar zangada me seria inescapável - pro que é ruim, não tem jeito que conserte. (mas ok, alguns amenizam!)
Terminar por carta certamente não é algo que eu julgo decente, mas também não diria que alguém já conseguiu terminar comigo, por exemplo, de alguma forma decente (algumas pessoas se deram o trabalho de serem cruelmente indecentes, até). Me coloco sempre a questão: um fim que só chega pra um, tem como ser decente pro que não o recebeu e ainda assim receberá? Não sei responder.
Quando cheguei no MAM pra ver a exposição de Sophie, eu já sabia que eu ia achando o sujeito que escreveu a carta um bandidão - sentimento natural de união da espécie feminina? sentimento natural por ser compartilhado por pessoas que já viveram a situação 'pé-na-bunda'? quem sabe? - mas eu tive pensamentos que eu não esperava, além deste, já esperado.
Eu gosto de pensar nas coisas como dramas adolescentes, como se expressar grandes sentimentos (bons e ruins) fosse privilégio da pouca idade e do descobrimento emocional. Ver gente bem-resolvida, trabalhando com coisas elegantes, sóbrias, falando com rancor sobre amor, percebendo a vulnerabilidade que elas atribuiam ao amor foi uma experiência diferente. Eu achava que 'quando eu crescesse' más-resoluções amorosas não seriam a coisa mais importante da minha vida. Como o amor pode ser tema de minha monografia, uma distinta senhora famosa pela sua arte estava se debruçando sobre sua vida pessoal para fazer arte (arte? alguns se perguntam) e aquelas mulheres fazendo questão de me lembrar em fotos gigantes, em filmes curtos e em textos elaborados: ele sempre está presente. Para umas mais, para outras menos, para umas com mais tristeza, para outras com mais raiva.
A carta é bem-escrita. Mas o amor não quer saber ler. Ele quer saber-se acompanhado. Ele quer saber-se bastante pro outro. Ele quer saber-se forte, alimentado, compartilhado.
A primeira mulher que vi no vídeo xingava o rapaz de filho da puta e eu sabia que era algo que eu também facilmente faria. A segunda ia se espantando com as sobrancelhas ao ler as coisas que ele dizia - e eu ia concordando com ela, as exigências de Sophie eram óbvias - ela não pedia nada que não fosse comum ao amor.
O melhor do livrinho com as impressões sobre a exposição: a adolescente, que disse que o rapaz se achava, a mãe de sophie tratando o assunto quase com um sorriso doce de pena da ingenuidade da filha famosa, a professora de educação infantil que sugeria que 1. descobrisse-se quem era o herói da história. 2. reescrevam o final da história. (e Sophie não tava reescrevendo mesmo não, ela tava fazendo o que ele disse: cuidando de si.)
E o melhor da exposição toda: uma senhora, numa cozinha mega colorida, num espanhol (que sempre já soa dramatico) lendo a carta, como uma mãe protetora, pontuando as obviedades de Sophie e execrando o cara na sua tentativa de surrealizar enquanto fatia algo ; ela começa a chorar. Olha pra a câmera e diz: malditas cebolas. Não é isso que fazemos o tempo todo? Nos afastamos do que realmente nos faz chorar, pra focar nos motivos que aceitamos ter para chorar.
Vai ver o amor é isso. O intervalo das nossas banalidades. O fôlego que tomamos entre um mergulho e outro. Não temos tempo para o amor. Mas temos que ter tempo para as cebolas. Malditas cebolas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário