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sexta-feira, 12 de março de 2010

Carpinejando.



(Fabrício Carpinejar, pra quem não sabe, é um escritor & poeta gaúcho maravilhoso na arte de ver lirismo e doçura nas arguras cotidianas - um sobrevivente num mundo cada dia mais cinza. Insistindo na questão de fazer títulos que façam alusão a jeitos de escrever de certas pessoas, digo: quem carpineja, escreve com doçura, carinho e frescor sobre as dorzinhas e pontadas que a vida exclama a toda hora. Eis o que pretendo fazer abaixo. Estou "carpinejando")

As pessoas, de maneira geral, sentem medo da tristeza e da solidão. Não pretendo ser uma exceção mas gosto de usar a aquarela e o pincel para inventar novas combinações de cores: para quê usar o azul se posso viver o verde e o amarelo misturados para obter o mesmo resultado? Há dores que são urgência, emergência, eminência. Não há como escapar. Deformam o coração, apertam o peito, mas não precisam ser apenas tristes. Nada precisa. Não existe 'precisar'.
A maior inimiga da minha tristeza é a esteira de ginástica. Como, em tristeza sã, passar quarenta minutos caminhando em velocidades alternadas sem chegar a lugar algum sem comparar com o processo que é a vida? Andar, andar, andar, pensar que precisa-se correr para chegar logo e ver que não há onde chegar. Em que ficar pensando durante esses quarenta minutos? Eu não. Prefiro uma tristeza-alegre.
Eu, que nunca fui muito dada a maquiagens, agora ando por aí com os olhos vermelhos, marejados. É uma melancolia poética. Olhos que viram muito sabem fazer chover, mas também se apertam para sorrir. A tristeza é muito engraçada, é nosso coração, em sequência, se colocando para fora de nós e se transformando em coisas que não são e que não somos: o que era concreto cinza, conjunto de pilastras e listras amarelas, mais um estacionamento, é agora um lugar em que se sorri entre lágrimas quando o coração aperta e lembra que ele, justo ele, nunca sabia entrar no estacionamento e achar a sua vaga favorita. Se perdia, rodava, reclamava, ora era orgulhoso e se resusava a pedir ajuda, ora dizia "você pode me dizer onde é que eu devo virar?". Tristeza-alegre é saber que a maquiagem vermelha, o concreto cinza, o barulho da chuva, o videogame do quarto do lado, os livros da estante e até os pensamentos da minha cabeça por um tempo não serão só o que são, não serão só meus. Tristeza-alegre é não dar sentido ao que não tem sentido, mas se permitir viver com intensidade o que é sentido. Mas a vida vai correndo para não chegar em lugar nenhum e eu preciso ter algo em mente para o enquanto isso. Tristeza-alegre é a roupa do Pierrot, em dia de carnaval, chorando pelo amor da Colombina - ainda que haja choro, estou com a roupa de palhaço e ainda é carnaval.

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