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quinta-feira, 25 de março de 2010

"Onde é que há gente no mundo?"



Essa semana, de um jeito ou de outro, me vi compelida a participar de duas conversas sobre os tão clichês e blasfemados relacionamentos amorosos. De um lado, uma conversa sobre a paquera, o antigamente famoso flerte, " o jogo" ou " a dança" e todas as suas regras num bê-a-bá dos mais adolescentes possíveis. A conversa na verdade se inclinava para um manual digno de livro de auto-ajuda: "você deve fazer isso" ; "nunca, sob nenhuma possibilidade faça tal coisa" ; "deixe o cara conduzir o jogo de vocês" e todo tipo de afirmação digna de Jedis especializados na pornochanchada dos relacionamentos.
Assustador. Não tenho muita paciência para paqueras ou joguinhos. Não gosto de ter que parecer ser outra pessoa para que gostem de mim. Ok, talvez quando eu tinha quinze anos. Mas e agora? Devo fingir que gosto de axé para agradar o homem? Enfim, uma conversa chata que não leva ninguém a evoluir sob nenhuma perspectiva. O triste é que o sentido da conversa era verdadeiro - as pessoas jogam enquanto se jogam e quem não sabe as regras quase sempre fica sozinho, deixado de escanteio, chorando ou se perguntando aonde errou. Até aqui nenhuma novidade.
Dias depois, me vi inserida em outra conversa. Desta vez sobre o fim de um relacionamento. Uma rede de intrigas, mentiras, máscaras, duplo comportamento e todo tipo de falcatrua digna de novela mexicana de mal gosto que passa no SBT. Mais uma vez, enjoada.
Não suporto essas frases feitas do tipo "mulher gosta é de se sentir confusa" ou "homem gosta de comandar a conquista". Meu Deus, nem pra nos gostarmos, nos aproximarmos, nos comunicarmos e tentarmos ficar juntos podemos ser gratuitos ou naturais? Não se pode dar risada, tomar um vinho, ir ao cinema, dançar, falar algo ao pé do ouvido com simplicidade e verdade? Se ganho flores que odeio, devo fingir que amo? Se ele diz que gosta de loiras, devo pintar meu cabelo? Sei que tudo isso acaba sendo o clichê do superficial numa análise de relacionamentos, mas me dá um desinteresse, um cansaço, uma espécie de tédio e de vontade de deitar e me espriguiçar e tomar um chá e ficar em casa ouvindo Maria Bethânia...
Dispenso as adrenalinas de um homem achando que está me conquistando. Dispenso as inseguranças de saber se serei amada ou não, se serei aceita ou não, se serei enganada ou não. Gosto de gente que fala a verdadade. Que vive de verdade. Tudo que me interessa nessa encarnação ( e possivelmente nas próximas) é paz. Um homem que me faça sentir menos perdida do que eu me sinto sempre já está de bom tamanho e mais do que suficiente.
Então que hoje eu estava assistindo Bones quando vi uma cena que resumia a opéra perfeitamente. O perito nerd ia entrevistar os jovens de uma daquelas sociedades típicas de faculdade americana - alpha, beta, phi, sigma, whatever - e via um mural com o nome de cada um dos rapazes e uma sequência de estrelas ao lado do nome. Ele quer entender o que significa aquilo. Logo lhe explicam, orgulhosos, que a quantidade de estrelas representa a quantidade de mulheres que tem dormido com eles. O perito ergue uma das sobrancelhas, faz um muxoxo e saí. Vira pro seu colega e diz: Sabe o que esses jovens são? Emocionalmente brochantes. Junta esse termo com o que a Nina Becker usou e pronto - eis a síntese completa dos nossos dias nas relações amorosas e interpessoais: emocionalmente brochantes e subdesenvolvidos emocionais.
Onde está o bote salva-vidas? Onde é que eu desligo o videogame? Vamos começar a escrever poemas em linha reta para dar significado em tudo isso.

Um comentário:

  1. é tão bom ler um texto bom.
    e eu sempre acho que dar uma de indiferente quando aparecem essas situações é o melhor. ou então falar a sua opinião e esperar o argumento dos outros, que sempre será meio vazio, ou começará com um "ah, mas você sabe como é né?".

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