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quinta-feira, 11 de março de 2010

"O seu problema é você mesmo"



Depois de assistir "Curtindo a vida adoidado" pude pensar sobre muitas questões como a importância da sorte, como o mundo era mais enrolável quando não haviam celulares e a eterna disputa entre irmãos. Tópicos que certamente renderiam uma ótima análise. Mas não é sobre nada disso que eu quero falar. O fato é: eu nunca me diverti tanto quanto Ferris Bueller. Eu sei que eu só tenho vinte e um anos mas isso não impede minha hipótese de ser absolutamente comprovada. Ferris se diverte porque ele simplesmente não tem nenhum potencial para a culpa, para a reflexão ou para arriscar pensar em qualquer espécie de consequência. Ele se diverte por pura dispretensão. É o que ele de melhor sabe fazer, e com maestria, o faz.
Pegar o carro do meu pai, mentir para a minha mãe, cabular aula, convencer meus amigos a fazer coisas que ele a princípio não querem: ok. Mas como me divertir com o carro do meu pai enquanto morro de medo de que aconteça algo com ele e por conseguinte comigo? Como mentir para a minha mãe sabendo que ela vai ficar tão magoada? Eu faço por orgulho, não por prazer. E quando deveria ser por prazer, morro de medo. De gostar da disgressão, sei lá, ou de passar a não me importar com os sentimentos dos outros.
Verdade seja dita: eu sou a pessoa na qual colocaram o papelzinho "responsável". Minha mãe daria muita risada e diria que isso é mentira porque eu deixo as coisas bagunçadas, estudo de última hora e odeio ir ao médico e tomar conta da minha própria saúde. Mas, não conheço ninguém que se importe mais com o que os outros vão pensar, o que os outros vão sentir, como os outros vão interpretar e no que isso pode vir a dar do que eu. Alguns (pessoas mais velhas e caretas, provavelmente) vão chamar isso de juízo ou maturidade emocional, eu chamaria de coeficiente de destruição da diversão - beirando virar a babaca que diz pro amigo que está dirigindo "cuidado, você está muito rápido" ou "por que você não trouxe o casaco?".
Como posso me divertir despretensiosamente se meu Camerom interior não para de pensar nos possíveis jeitos que meu pai me esfolará sequer se acontecer algo com meu próprio carro - quiça com o dele? Como posso me divertir se sempre estou comprometida com os sentimentos do meu namorado, das minhas amigas, dos meus amigos e da minha família? Como posso me divertir se ao ser descoberta posso desapontar tantas pessoas que esperam coisas de mim? Quando foi que eu fui infame a ponto de permitir que esperassem? Como posso me divertir se as consequências disso podem machucar alguém? Quando assinei o atestado de 'babá cooperante' assinei o de 'pessoa mais sem sal do mundo' sem saber?
Quando o cara de Two and a Half man diz pra a irmã de Ferris que o problema é ela mesma, ilumina tudo e ela consegue dar uns pegas, dirigir alucinada e se divertir sacaneando o diretor do colégio. Vamos ver o que ( se é que) eu consigo aprontar agora que sei que o problema sou eu mesma. Twist and shout.


ps. Desconfio que isso até que ficou meio queixoso, mas a sensação que ficou é de vontade urgente de me divertir - o que é muito bom.

Um comentário:

  1. eu sempre fico com medo desses textos que falam de diversão, porque muitos acabam caindo no senso comum do carpe-diem-vida-loka. mas eu sabia que por aqui a coisa seria diferente. nunca tinha percebido em como a nossa diversão é controlada, e é engraçada essa identificação, porque existe uma controle mesmo quando estamos em um grupo sendo nós mesmos, nos divertindo. ou é paranoia minha.

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