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sexta-feira, 18 de junho de 2010

José.

"O que a memória amou fica eterno"
[Adélia Prado]




Sei que muita gente vai falar da morte de Saramago. Alguns vão enaltecer seu talento literário. Outros vão criticar suas opiniões políticas e alguns outros ainda irão fazer estudos e comparativos sobre sua obra inserida num momento histórico, num movimento literário ou com relação a autores de sua mesma geração/geografia/ideologia. Sei ainda que muita gente vai se declarar leitora de Saramago porque é muito 'in' e não duvido até que a notícia de sua morte vire tópico recorrente no twitter ou assunto a ser analisado em mesa de bar.

O meu post não é pra nada disso. Não é sobre nada disso. Não sou entendida de literatura,nem de política e nem de fanatismo - não vou compara-lo com Lobo Antunes, discordar do seu comunismo dinossaurico, copiar trechos de livros famosos ou mostrar o quanto 'eu-sou-a-inteligente-leitora-de-saramago'.

Eu só queria mesmo era agradecer ao José, por ter me dado tanto prazer numa leitura, tanta tristeza no meio dos livros, tanta solidão, tanta reflexão. Eu só queria dizer que vou sempre me lembrar de ficar largada, com olhos fundos e dor de cabeça, querendo entender porque aquela falta de vírgula me atrapalahava tanto a leitura e porque aquelas cenas descritas me vertiginavam tanto. Eu só queria agradecer ao José por ter escrito um livro que mexe tanto comigo. Eu só queria dizer ao José que pelas palavras dele, os meus olhos se abriram tanto mais e quase tanto que saltaram das órbitas: viver nesse mundo de cegos nos faz sim cegos e é trabalho demais continuar tentando enxergar. E depois queria abraçar o José, o José que fala no documentário "Janela da Alma" sobre a importância de ter olhos para ver quando ninguém mais o faz.

Fico muito triste com a sua partida, mas é como diz o Lenine: "é que a gente vai, a gente vai, e fica a obra. eu persigo o que falta, não o que sobra. eu quero tudo que dá e passa. quero tudo que se despe, se despede, despedaça... o que é bonito!"





* O documentário Janela da Alma vale muito a pena;

3 comentários:

  1. juliana, vc é foda mesmo,né?

    fiquei emocionada lendo esse seu post. eu amava o Saramago. engraçado que eu nunca tinha ficado triste de verdade pela morte de alguém famoso.
    De repente, descobri que o José era o meu ídolo.
    Se houve algum ganho vindo da faculdade que cursei, o ganho foi ter conhecido a obra desse cara.
    Me sinto meio boba por ficar tão sentida com a morte de alguém que nem nunca vi de perto, mas, enfim, estou.
    Tb me vi vertiginada pelas cenas e pelas palavras dele.

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  2. juzita, adorei o post, saramago também teve essa função na minha vida, a de abrir os olhos.

    ps: tenta diminuir o tamanho dos videos no proprio youtube. acontece que se a gente lê o blog por aqui, e não pelo reader, a pagina fica desconfigurada e o video fica sobreposto por essa barra lateral. é simples: na hora de clicar lá para copiar o codigo e colar aqui, escolhe a menor opção de tamanho que tiver. =)

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  3. Já viu essa animação que a Fundação Saramago produziu?
    http://vimeo.com/3691184

    É bem bacana.
    Abraços

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