Pesquisar este blog

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Adélia que é mulher de verdade




"Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."

Adélia Prado


* Nessa sexta chuvosa eu resolvi não reclamar de nada, só deixar a poesia nascer porque eu amo a adélia e o jeito simples que ela tem pra dizer o indizível, sempre. Adélia que é mulher de verdade. :)

Nenhum comentário:

Postar um comentário