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quinta-feira, 15 de julho de 2010

le petit nicolas




um amigo já tinha me dito: 'vença a preguiça e vá ver O pequeno Nicolau, filme francês lindo, emocionante, engraçado, triste, sutil, maravilhoso.. você vai amar...'. eu vi o trailer e me animei mas o horário era um horror. daí uma outra amiga chegou e disse que eu p-r-e-c-i-s-a-v-a ver, que era a minha cara, que era lindo e que não tinha erro. ok. hoje eu enfim fui ver. e olha, tô recomendando muito! coisa linda filme que fala da ingenuidade das crianças e das dores e delícias delas. muito engraçado e especialmente sutil. recomendo mesmo. pessoal aqui de salvador onde todas as salas do circuito comercial passam toy story 3 ( que é lindo demais, vejam) ; shrek 4 (que é engraçadinho) e eclipse (não vi, não sei se é bom mas li boas críticas) corre pro circuito sala de arte que tá passando cada filmão ó: tudo pode dar certo (velho woody de volta a velha NY e ao velho sarcasmo carnicento), cerejeira em flor ( ainda não vi mas já tô morrendo pra ver, que parece coisa linda! procurem trailers mas o mini roteiro que conta o que tem no trailer é: sr e sra casados há muitos anos ainda se amam muito. o sonho dela é ir pro Fuji com o marido ver as cerejeiras em flor mas ele acha que o Fuji é só uma montanha e que não tem diferença ir ou não. ela morre subitamente. ele junta as roupas dela, coloca numa mala e vai 'com ela' pro monte Fuji.) e "O pequeno Nicolau".

sobre o filme, queria fazer duas observações sobre duas cenas que não me saem da cabeça:

1 - quando Clotário, o 'menino burro' da turma vai ser submetido ao teste de Rochard, o médico explica que vai mostrar pra ele umas figurinhas e pede pra ele explicar o que ele vê em cada imagem; mostra a primeira e Clotário diz, temeroso, "não sei o que é isso...", mostra a segunda e Clotário ainda mais receoso diz "não sou eu?" e quando o médico mostra a terceira, Clotário se levanta para ir para o 'canto do castigo' e diz: "olha, não sei porque você está me mostrando essa bagunça, eu juro que não fui eu que fiz esses desenhos tortos!". fiquei me perguntando: não é essa toda a moral de nossa educação? pilares que indicam o certo e o errado e o caminho da punição para os nossos erros? crescendo sobre o pavor do olhar do outro e do significado que atribuem aos nossos erros, como construir uma autonomia em nossas respostas? mesmo tendo sido explicado a Clotário que naquele caso não haviam 'respostas certas' ele não se permitiu pensar por si mesmo para responder o que ele via nas figuras e sai daquela situação no mesmo padrão que entrou - já saiu buscando a parede do seu castigo por se identificar na posição de sujeito que não sabe as respostas. Clotário, sabendo que lugar era o seu, ficou engessado demais. O nosso método de educar não é, de certo modo, todo voltado para o engessamento dos nossos sujeitos?

2 - quando o narrador nos apresenta o pai de Nicolau, ele logo nos diz: " esse é o meu pai, ele sempre diz que se não tivesse se casado com a minha mãe ele seria campeão de futebol ou campeão de natação ou campeão de ciclismo." nessa hora em que o pai de Nicolau deixa bem claro que o casamento lhe privou de dar continuidade a seus sonhos de grandeza e talento, automaticamente me lembrei do que fala o Calligaris em um texto chamado "Guerras Íntimas", na verdade, acho a cena uma metáfora do texto, segue um trecho:

"Ou seja, é freqüente que, para evitar os tormentos da contradição interna, atribuamos aos outros (em particular, aos que nos são mais próximos, mas também ao mundo em geral) a função de nos impedir de desejar além da conta.

São aquelas lamúrias: queria mesmo ser trompetista, mas não deu porque é uma carreira incerta e é preciso pagar a mensalidade da escola das crianças; queria passar as noites nas casas de suingue, mas não ficaria bem para minha mulher se encontrássemos alguém que a conhece; queria passar o dia como uma amélia, cozinhando geléias naturais e bolos de chocolate, mas meu marido quer uma boneca de luxo.

É claro que nós mesmos preferimos a família ao trompete, a respeitabilidade ao suingue e a vida urbana à geléia. Mas é mais fácil encarar nossas desistências transformando os outros em imaginários carrascos de nosso desejo: "Foi por causa deles".

(...)

A diferença é pequena, mas decisiva e fácil de ser constatada: tudo depende de quem fala. Se eu me queixo de que o outro me impede de ser rei da China, muito bem, é minha projeção; melhor perseverar e, quem sabe, descobrir, na briga, por que eu mesmo não me mudei para Pequim. Mas, se meu parceiro se queixa de que tenho o extravagante desejo de ser rei da China, o casal está próximo de sua falência."



Vão assistir o filme que eu juro que vale a pena!

* É nessas horas que eu fico doida pra ser professora e levar uns filmes desse tipo pra debates em sala de aula!

2 comentários:

  1. Jú você fez uma análise irrepreensível! sua percepção acerca do filme, sobretudo, dessas duas passagens é perfeita, bastante sábia.
    Parabéns!
    Núbia

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  2. Concordo com você... é leve, engraçado e de uma inocência...
    Sobre a sua segunda observação... Isso me chocou muito. Muito mais do que colocar na mulher a culpa da escolha ele fala como se ela não o tivesse permitido crescer profissionalmente... desenvolver seus talentos. Como assim? Você se relaciona com alguém que não só não te apóia como te impede de brilhar?
    Acho horrível essa visão. Mas... não estou muito articulada hoje. Qualquer dia a gente senta pra discutir melhor o assunto.

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